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“DESLIZE” – Poucas linhas

Alguns filmes não merecem muitas linhas para uma crítica. Sem dúvida, DESLIZE é um exemplar ótimo desse grupo.

O protagonista James é um gênio da computação no começo da faculdade. Seu colega de quarto, o mulherengo Lance, o contrata para criar um aplicativo que facilite o sexo e torne as mulheres descartáveis. A contragosto, James aceita o trabalho, com o fundado receio de sofrer com as consequências.

O roteiro – se é que pode ser atribuído esse nome ao escrito que textualiza o filme -, assinado por Ann Deborah Fishman (também diretora do filme), não poderia ser mais raso: James é o nerd com uma bússola moral bem calibrada, mas com dificuldade de se relacionar com as pessoas; Lance é o jovem que só pensa em transar com o maior número de mulheres possível. Exceto por Hannah, a paixão de James, os coadjuvantes não têm relevância, representando, na melhor das hipóteses, retratos superficiais de uma generalização sobre homens e mulheres.

Cartaz de “Deslize

Sem dúvida, trata-se de um idiot plot. É até estranho – além de ofensivo, ressalte-se – que uma mulher tenha escrito um script tão machista e descerebrado. O app desejado por Lance exige que as mulheres coloquem fotos apenas de lingeries (ironicamente, não fala nada sobre os homens precisarem se expor da mesma forma). Pior, elas aceitam, pois é lá onde estão os homens (como se uma mulher não fosse nada sem um homem).

Há uma generalização estupidamente burra (com uma tautologia proposital aqui para dar ênfase) para os dois lados: homens são movidos a sexo; mulheres, a homens. E a questão não é etária, valendo também, por exemplo, para a mãe de James, que se tornou obcecada pelo ex-marido após o divórcio. Em “Deslize”, todas as mulheres se submetem à condição degradante na qual todos os homens as colocam – o que por si só já é inverossímil. James e Hannah são exceções: ele é um estereótipo exagerado, mas funcional; ela não quer saber de aplicativo algum, usando seu tempo na literatura (inclusive lendo enquanto caminha, até tropeçar, algo que, no raciocínio da roteirista, todos os leitores vorazes fazem).

Kendall Ryan Sanders se esforça, mas James é uma personagem digna de pena, tamanha a sua fragilidade. Noah Centineo não sai do óbvio com Lance. Kristen Johnston interpreta uma professora caricata e capaz de encerrar a primeira aula com pouquíssimos minutos, sem conteúdo (embora pareça querer transmitir alguma matéria) e um sermão bastante forçado (ao menos compatível com o idiot plot).

Com um final apressado, Fishman é uma diretora que não consegue sequer dar ritmo ao longa. As soluções são óbvias demais para o previsível conflito do clímax. Melhor torcer para que a produção seja um “deslize” na carreira dos envolvidos. Um filme que não vale nenhuma linha a mais como crítica.

Em tempo: o fato de o público-alvo do filme ser adolescente não justifica sua estupidez e qualidade ruim.