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“GRINGO – VIVO OU MORTO” – Esforço para ser ruim

Pensado para ser engraçado, GRINGO – VIVO OU MORTO é uma piada de péssimo gosto que envergonha seu elenco qualificado. O filme é protagonizado por Harold, um homem dedicado ao trabalho e à esposa que enfrenta problemas financeiros que devem ser agravados em razão da provável iminência da sua demissão – ao menos é o que ele acredita. Em uma viagem a trabalho com seus superiores, Richard e Elaine, o protagonista resolve forjar seu sequestro para angariar algum dinheiro.

O roteiro do longa é um verdadeiro descalabro usando o escracho como ferramenta narrativa, em tese, humorística. Não há uma análise inteligente sobre algum objeto ou um script bem desenvolvido, ao contrário, o texto usa eventos estapafúrdios para simular alguma comicidade. E a questão é justamente essa: para uma comédia, “Gringo” não tem a mínima graça.

Ainda mais grave que um humor sem graça é a forma traiçoeira pela qual os mexicanos são retratados: usando como pretexto um plot relacionado com a comercialização da maconha, o povo mexicano é exibido a partir de dois estereótipos preconceituosos – os estúpidos e oportunistas versus os aproveitadores de sangue frio. Quando Harold se distancia de Richard e Elaine, encontra dois indivíduos representantes do primeiro grupo, que enxergam nele uma oportunidade de lucro fácil (às suas custas, é claro), enquanto um narcotraficante poderoso conhecido como “Pantera Negra” está atrás dele. Embora pareça um roteiro escrito por Donald Trump, foram Anthony Tambakis e Matthew Stone os responsáveis por essa pérola.

Episodicamente, alguma cena pode ter graça no filme, como quando Harold usa um cigarro para uma simulação de tortura. Porém, isso é exceção. A comédia é tão ruim que sabota momentos de ação, por exemplo, na cena em que um vilão começa a falar sobre os Bee Gees ou em outra que uma personagem questiona a verossimilhança da Bíblia antes de matar outra. Nesses casos, há uma quebra da ação que em nada colabora para a sequência narrativa.

É lamentável que atores gabaritados como Joel Edgerton e Charlize Theron interpretem vilões rasos como Richard e Elaine. Edgerton tem espaço para desenvolver exclusivamente emoções priápicas – porque é nisso que a personagem se resume, já que não sabe sequer a diferença entre o Haiti e o Nepal -, enquanto Theron aceita o papel da bela que usa o corpo como arma (na prática, ela se submete a uma objetificação, ainda que seja explícita e proposital). A atriz também chama a atenção em um monólogo que escancara o desperdício que foi a sua participação na película. Thandie Newton tem a sorte de aparecer pouco, enquanto Amanda Seyfried precisa fingir que sua Sunny é relevante. David Oyelowo se esforça para tornar Harold carismático, mas a causa já era perdida na concepção.

Para não dizer que tudo no longa é ruim, existem dois elementos positivos que podem ser mencionados. O primeiro é a escolha de “Criminal”, de Earl St. Clair, para embalar a sequência final. Afinal, se o filme tem má qualidade, o mesmo não pode ser dito em relação à canção. O segundo é o diálogo entre Harold e Sunny, em que ele afirma que ser uma boa pessoa não compensa, pois apenas as pessoas más (sem caráter, inescrupulosas, golpistas etc.) se dão bem. Evidentemente, “Gringo” não tem a menor capacidade para fazer o espectador pensar sobre isso, ainda que sua mensagem seja referente a essa matéria. Porém, a menção é válida. A conclusão é esta: nem os filmes que se esforçam para ser ruins conseguem ficar sem uma mínima virtude.