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“MISSÃO: IMPOSSÍVEL 2” – Chances desperdiçadas e breguice

Para ler a crítica do primeiro filme (“Missão: impossível“, de 1996), clássico do mês de julho de 2018, clique aqui.

Quatro anos após o primeiro filme, a infame sequência de “Missão: impossível” chegou aos cinemas. No que poderia ser a oportunidade de explorar mais a franquia e levar a história a outro patamar, fica o amargo de um resultado não tão interessante e divertido como o primeiro. MISSÃO: IMPOSSÍVEL 2 é, provavelmente, o filme mais fraco da franquia (ao menos até o quinto já lançado) e não faz jus às oportunidades perdidas.

Nesse filme, o agente Ethan Hunt (Tom Cruise) está de volta para impedir que Sean Ambrose (Dougray Scott) ponha as mãos em um vírus extremamente poderoso chamado Quimera. Ele vai contar com seus parceiros Billy (John Polson) e Luther (Ving Rhames), além de uma nova companhia, a ladra Nyah (Thandie Newton).

A compensação da trama vazia, muito evidente em um roteiro fraco, deveria vir através de visuais e atuações competentes, o que não é o caso. Tom Cruise retorna como o espião/galã visto no primeiro longa. O vilão, interpretado por Dougray Scott também não mostra um impressionante trabalho. Tudo nesse filme parece fora de lugar, numa sensação que reflete a mudança de tom comparado ao primeiro e principalmente as escolhas do diretor John Woo. Se essas escolhas pudessem ser definidas em uma palavra, seria: brega.

E isso não se dá por colocar a ação em situações absurdas para abusar das ferramentas disponíveis, mas sim por levar isso a um patamar tão elevado, que fica difícil distinguir seriedade de humor. Afinal, o ímpeto do espectador ao se deparar com situações tão fora da realidade é de rir. Um exemplo disso é a levantada de uma arma na areia à la Ronaldinho no terceiro ato. Pior que isso é pegá-la no ar já com o dedo no gatilho e mirado para o alvo. Isso é extremamente cafona, mesmo para um filme de ação. Ao construir um filme de ação e espionagem e definir regras tão sem sentido a esse universo, perdem-se de vista as qualidades que poderiam ser mais bem aproveitadas.

O abuso dos zooms e da câmera lenta tiram o espectador da ação nos momentos mais cruciais. Não há preocupação em tratar as cenas de tiroteios e perseguições da maneira correta, e os excessos desses recursos levam a uma exaustão desnecessária. Se falta inventividade nas sequências intensas, as falas do roteiro de Robert Towne tentam ao máximo ser criativas. O resultado é infeliz, com muitas “piadas” de conotação sexual sem necessidade. Todo o carisma (com muita ironia) da atuação de Thandie Newton também não ajuda na química em tela com Tom Cruise.

Woo tenta uma proximidade maior com o espectador em uma cadência de ação que acaba por não impressionar. Isso reforça que uma franquia como “Missão: impossível” requer não só grandiosas sequências de ação, mas também um drama de espionagem elaborado em um roteiro amarrado e um vilão à altura do quase todo-poderoso agente Hunt. Aqui, o vilão é construído como alguém supostamente malvado, mas a maior maldade praticada durante o filme é cortar a ponta do dedinho de seu parceiro com um cortador de charuto. Mesmo para o ano 2000, isso soa e parece muito brega.

Contudo, há pontos positivos. A ação é bem construída em alguns momentos, causando uma expectativa pelo desfecho principalmente nas cenas do agente Hunt. Um tom de rock na trilha sonora, com guitarras distorcidas e uma bateria marcante (lembrando até, quem sabe, Limp Bizkit) foi providencial para promover uma melhora significativa em algumas cenas. Apesar de tudo, ainda é um filme de ação com um tom confuso, mas que ocupa duas horas se equilibrando em uma corda bamba. Não se desfaz totalmente devido a Tom Cruise e suas engenhocas espiãs que nos deixam na ponta da cadeira, ao mesmo tempo que abusa de recursos que desgastam e deixam o filme muito datado. Não é uma missão impossível assistir a essa sequência, mas deixa muito a desejar.