Nosso Cinema

A melhor fonte de críticas de cinema

“OS INCRÍVEIS 2” – Atualizando um filme incrível

A nostalgia é um elemento que a sétima arte vem aproveitando bastante, com incontáveis remakes, reboots, prequels e sequels de obras consagradas na história. OS INCRÍVEIS 2 é a continuação, em 2018, do filme de 2004, tendo o primeiro envelhecido tão bem que deu ensejo a uma sequência coerente e contemporânea.

No filme, Helena é escolhida para lutar contra o crime, enquanto Beto fica em casa para cuidar das crianças. Norteado pela continuidade, o segundo começa onde o primeiro termina: a família enfrenta o vilão Escavador. Elementos do anterior são reiterados, como as brigas das crianças (em especial para participar da ação), a ajuda de Gelado (que agora participa mais) e a impagável participação de Edna (a figurinista mais encantadora da ficção) – sem contar a canção-tema. De maneira metalinguística, cita a nostalgia com uma agradável – ainda que anacrônica – referência a Jonny Quest (um easter egg que não será percebido por parcela considerável do público).

Ainda que bastante previsível, Brad Bird escreve (e dirige) seu filme enquanto reflexo dos tempos. Nesse sentido, o subtexto é bastante rico, mencionando a intimidação masculina pelos progressos femininos (Toninho diz não ter problema com garotas fortes, mas…), os políticos desinteressados pelas demandas dos cidadãos (constatação de Ricardo) e, como não podia deixar de ser, o protagonismo feminino – algo que não se reduz à atuação solo da Mulher-Elástica, mas se faz presente também em diálogos. Outro subtexto que vai além do que se espera da produção é a discussão entre Helena e Beto sobre a obediência a leis injustas.

Helena ganha profundidade, sendo uma personagem crível, a despeito de seus poderes. Embora ela seja reticente sobre o retorno da Mulher-Elástica, chega um momento em que ela admite que ter sido escolhida fez bem para seu ego. Enquanto isso, Beto percebe o quão difíceis são as tarefas domésticas (fazer o bebê dormir, ensinar matemática para Flecha, lidar com uma Violeta apaixonada etc.), mas seu orgulho não lhe permite admitir que Helena é melhor em casa e como heroína. Como ele mesmo diz, pode lidar com tudo, porque é o Senhor Incrível. Violeta é outra personagem feminina que tem avanço na personalidade e também no controle dos poderes – pena que seu arco dramático é bastante reduzido.

Esse é o filme mais longo da Pixar, com quase duas horas. Embora pudesse ser encurtado, há bastante criatividade ao explorar o universo criado, com veículos bem tecnológicos (o da Mulher-Elástica é genial) e poderes surpreendentes (tanto dos heróis conhecidos quanto dos novos) – em especial do bebê Zezé, que é melhor desvendado. A animação em si não apresenta grande evolução, inclusive mantém alguns exageros estilísticos (rostos retilíneos, cabeças desproporcionais, dentre outras características), porém isso nada mais é que a proposta de Brad Bird na direção – até porque não faria sentido mudar a estética, ainda mais considerando que não há intervalo temporal (diegético) em relação ao filme de 2004. Ainda no aspecto visual, o alerta acerca do perigo de convulsões e epilepsia faz sentido, vez que, em alguns momentos, há massiva exposição de imagens com ilusão de ótica que não são muito agradáveis aos olhos.

Os incríveis 2” não acrescenta muito em relação ao anterior, salvo pela mencionada atualização. O longa tem toda a energia do primeiro, a pulsação de uma aventura empolgante, tornando-se uma continuação elogiável por se adaptar à realidade contemporânea, mas não por inovações “incríveis” em si.

P.S.: o curta que introduz a produção é simpático e com uma mensagem interessante sobre amadurecimento nas relações familiares. Tecnicamente, a inexistência de falas (no máximo, ruídos diegéticos) constitui um inteligente design de som, todavia a animação em si é deveras singela e não muito marcante.