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“TE PEGUEI!” – Uma comédia de pega-pega

Envelhecer por parar de brincar ou parar de brincar por envelhecer: eis o dilema das personagens de TE PEGUEI!. No primeiro caso, há uma escolha; no segundo, uma sujeição. Não se trata exatamente de um discurso no estilo Peter Pan, mas de uma reflexão sobre os males da vida adulta. Crianças brincam por serem crianças ou porque as brincadeiras têm algo a mais que a diversão?

No longa, cinco amigos estão dispostos a arriscar tudo (de relacionamentos a emprego) para manter a tradição de brincar de pega-pega durante um mês inteiro, o que fazem desde a infância. Do grupo, apenas um está invicto, porém prestes a se casar, o que o deixa mais suscetível a perder a invencibilidade.

Trata-se de Jerry, que funciona como uma espécie de antagonista, sendo a personagem melhor desenvolvida. Não que o mérito seja de seu intérprete, Jeremy Renner, que é um ator, no geral, limitado. O diferencial de Jerry é que, além de ser “o imbatível” do grupo, há muito suspense quanto à sua figura, que inclusive demora um pouco para aparecer. Elementos visuais também são bem utilizados, como o penteado arrojado e jovial e o figurino escuro (preto ou cinza), dando um ar de mistério.

As demais personagens, todavia, não têm a mesma sorte. Ed Helms vive Hoagie, que não é exatamente o protagonista – o (jogo de) pega-pega é o protagonista -, mas tem alguma personalidade delineada e um arco dramático (no sentido de subplot) individual, sobretudo pelas personagens periféricas (a mãe e a esposa), por questões pessoais da personagem e por ser a mola propulsora do plot (é ele quem inicia a competição da vez). Isla Fisher interpreta a sua esposa e parece igualmente confortável na comédia, contudo tem menor espaço em tela.

Jake Johnson, como Chilli, e Jon Hamm, como Bob, formam uma dupla de coadjuvantes sem muitas emoções, embora Hamm tenha bom desempenho. O problema é que o primeiro é reduzido a alguém sem muita perspectiva de vida, enquanto o segundo é um empresário de sucesso, extremos que têm em comum a paixão pela mesma mulher – cuja relevância na trama é quase nula. De todo modo, a distinção entre eles fica também no visual: enquanto Bob tem um penteado irretocável e figurino elegante, Chilli é claramente desleixado. Entre os cinco amigos está também Fumaça (Hannibal Buress), que praticamente passa despercebido.

O iniciante Jeff Tomsic não extrai de “TAG!” (nome original) tudo que poderia. Mesmo tendo algumas boas ideias, elas são abandonadas no decorrer da película, como se o próprio cineasta desistisse de fazer algo diferente. Colocar uma GoPro para filmar a tentativa de fuga de Chilli, por exemplo, seria uma boa ideia se Johnson fosse melhor ator e se não fosse um recurso utilizado exclusivamente nessa cena. Por sua vez, a montagem é ruim ao utilizar, para a pontuação de algumas sequências, elementos aleatórios passando na frente como se fossem uma cortina (por exemplo, uma pessoa passando pelo quadro, de um lado a outro, para dividir uma cena de outra): além de não fazer sentido, a técnica não traz benefício algum e é aplicada apenas parte do filme, como se dois montadores diferentes tivessem trabalhado nele.

Por outro lado, as cenas de ação protagonizadas por Jerry são bem eficazes e de humor razoável, mediante a utilização de golpes criativos (a improvisação de um objeto banal como nunchaku é um dos melhores momentos), slow motion, narração metadiegética (os pensamentos das personagens são traduzidos em narração) e planos-detalhe. O melhor é saber que a história é real (inclusive algumas bizarrices) e foi noticiada por um grande jornal – aliás, a jornalista vivida por Annabelle Wallis é bastante útil para justificar algumas explicações fornecidas ao público (leia-se, uma bem pensada facilitação de roteiro). As cenas reais dos amigos que inspiraram o filme, que passam durante os créditos, são possivelmente mais engraçadas que o próprio filme.

Isso não significa que “Te peguei!” não tenha graça. Seu humor infantil consegue gerar algumas piadas (não muitas, ao menos para o espectador exigente) e, o que é mais importante, a mensagem de que os amigos devem se manter unidos, ainda que a vida adulta insista no afastamento. O exagero cômico é coerente, principalmente porque não se sabe até que ponto há licença poética no roteiro (será que um deles largou mesmo uma sessão de terapia daquela maneira?). Entretanto, na parte final, há uma cena, envolvendo Jerry e sua esposa, que destoa da brincadeira sadia e, o que é pior, perde a coerência com o resto. Ignorando isso, quando o longa ressalta, textualmente, que há algo mais importante que o jogo em si (retomando os eixos perdidos na cena mencionada), parece ser mais que uma comédia tola e despretensiosa. E quase engana.