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“LOONEY TUNES – O FILME: O DIA QUE A TERRA EXPLODIU” –  A infância volta ao cinema

Quando um filme baseado em personagens clássicos chega aos cinemas, a expectativa é de que a produção consiga equilibrar a reverência ao passado com algo novo, que justifique a existência do longa no presente. Em LOONEY TUNES – O FILME: O DIA QUE A TERRA EXPLODIU, essa proposta encontra resistência em um roteiro que, por vezes, parece mais um grande episódio de sábado de manhã estendido do que uma narrativa cinematográfica. No entanto, o longa acerta em cheio ao apostar na estética 2D vibrante e nostálgica, evocando memórias de infância e lembrando o poder que esse tipo de animação ainda tem quando projetado em tela grande.

A história começa com Gaguinho e Patolino se envolvendo em mais uma confusão – dessa vez, dentro de uma fábrica de chicletes no bairro em que vivem, onde tudo parece começar como uma típica trapalhada dos dois. Entre tropeços, explosões e acidentes nada discretos, eles acabam descobrindo por acaso um plano alienígena secreto para controlar mentalmente os humanos através das guloseimas produzidas no local. Sem querer, os dois se tornam os improváveis – e relutantes – heróis da Terra, liderando uma resistência desajeitada, porém corajosa e determinada, contra a ameaça extraterrestre. À medida que a missão se complica e os obstáculos se multiplicam, Gaguinho e Patolino também enfrentam um desafio paralelo: aprender a conviver, colaborar e sobreviver juntos sem que um acabe completamente enlouquecendo o outro no processo.

(© Paris Filmes / Divulgação)

Dirigido por Peter Browngardt, conhecido pelo trabalho em animações que valorizam o estilo clássico, o filme não esconde sua principal intenção: ser uma grande homenagem aos personagens do universo do Looney Tunes e ao próprio espírito caótico e anárquico que sempre os definiu. O roteiro se apoia fortemente nisso, conectando cenas de maneira mais episódica do que fluída. A sensação, em vários momentos, é a de assistir a um compilado de esquetes costuradas por uma narrativa simples, mas funcional, que serve de desculpa para exibir o melhor dos personagens em ação.

O grande trunfo do longa está na escolha estética. A animação 2D ressurge aqui com força, utilizando traços expressivos, cores intensas e uma movimentação exagerada que respeita. Cada explosão, queda, perseguição ou olhar esbugalhado carrega uma energia cômica que remete diretamente aos tempos de ouro da animação. Ver isso em uma sala de cinema, com o som amplificado e a tela cheia, é uma experiência que por si só já vale o ingresso. A direção de arte abraça esse estilo sem reservas, e esse compromisso com a tradição se torna um dos maiores destaques do filme.

No entanto, apesar da força visual, o roteiro não apresenta grandes ousadias narrativas. Ele prefere jogar seguro, apostando na dinâmica cômica de Gaguinho e Patolino para carregar o filme. E, de fato, a química entre os dois funcionam – Gaguinho com seu jeito estabanado e atrapalhado, e Patolino com sua arrogância e ego inflado –, mas há uma limitação clara na repetição constante de piadas e situações. Ainda assim, há momentos de brilho, especialmente quando o filme se permite brincar com metalinguagem e referências ao próprio universo.

Outro ponto que merece destaque é a maneira como o filme lida com o absurdo. Diferente de animações modernas, que tendem a racionalizar suas premissas ou buscar uma lógica emocional mais social, o longa abraça os nomes com orgulho. Há uma liberdade narrativa que permite que os personagens viajem entre fábricas, planetas e explosões de goma de mascar sem precisar de muita justificativa. Para os fãs, esse caos organizado é parte do charme; para os não iniciados, pode parecer apenas barulho sem direção.

Por fim, “Looney Tunes- o filme: o dia que a terra explodiu” funciona como uma celebração. Ele não tenta reinventar os personagens, nem modernizá-los demais, o que pode ser tanto uma virtude quanto uma limitação. Ao manter-se fiel à essência dos desenhos clássicos, o longa se torna uma carta de amor aos fãs, especialmente os que cresceram assistindo Gaguinho, Patolino, Pernalonga e companhia. Ao mesmo tempo, pode não impactar tanto quem esperava uma história mais coesa ou inventiva.