“DESAFIE A ESCURIDÃO” – Um drama sem impacto
Nem toda boa história resulta em um bom filme, e DESAFIE A ESCURIDÃO é um exemplo claro disso. Baseado em eventos reais, o longa busca emocionar ao retratar a jornada de um jovem perdido e a luta de um professor para salvá-lo. No entanto, sua execução morna, especialmente na atuação e no roteiro, impede que a narrativa tenha o impacto desejado. Apesar de contar com um tema relevante e um final relativamente forte, o filme falha em tornar sua história convincente o suficiente para se destacar.
A trama acompanha Nathan Williams, um jovem que vive em condições precárias e acaba sendo preso. Seu professor, Stan Deen, descobre a situação e decide tirá-lo da cadeia, tentando auxiliá-lo na difícil tarefa de reconstruir sua vida. No entanto, conforme se envolve mais na vida de Nathan, Deen percebe que o garoto carrega segredos obscuros e traumas que o empurram para um caminho autodestrutivo. A relação entre os dois se torna um jogo de equilíbrio entre esperança e desespero, enquanto o professor tenta impedir que Nathan perca tudo, inclusive a si mesmo.

Dirigido por Damian Harris, “Desafie a escuridão” tem como principal destaque a atuação de Jared Harris, que interpreta Stan Deen com uma força silenciosa e genuína. Seu personagem é a luz na vida de Nathan, e sua presença transmite a segurança de um mentor disposto a lutar pelo futuro de seu aluno. O ator consegue dar profundidade a Deen, construindo um personagem realista, cujo altruísmo nunca parece forçado ou exagerado. No entanto, essa qualidade não se estende ao restante do elenco. Nicholas Hamilton, que vive Nathan, não consegue capturar a complexidade emocional do personagem. Sua atuação oscila entre apatia e exagero, tornando-o um protagonista difícil de se conectar. Sua versão de Nathan se encaixa em um arquétipo genérico de rebelde juvenil, o que compromete a credibilidade do drama.
Outro grande problema do filme está no roteiro, que deveria ser o coração da história, mas se mostra um de seus pontos fracos. Escrito de forma pouco inspirada, os diálogos parecem mecânicos e sem vida. Muitas vezes, os personagens falam apenas para preencher tempo, sem uma real profundidade ou direção clara. As tentativas de desenvolver a história de Nathan, como sua relação com Tina Baxter, interpretada por Sasha Bhasin, são mal aproveitadas e não agregam ao conflito principal. A abordagem do passado traumático de Nathan, incluindo os abusos que sua mãe sofreu, é tratada de maneira superficial, sem a carga emocional necessária para causar impacto. O filme sugere vários momentos de profundidade, mas nunca se aprofunda verdadeiramente em nenhum deles, tornando-se um drama raso que desperdiça seu potencial.
Visualmente, o longa também não apresenta grande expressividade. A cinematografia é funcional, mas carece de identidade. Alguns enquadramentos são interessantes, especialmente nas cenas que retratam a relação entre Deen e Nathan, mas no geral, a fotografia não adiciona camadas significativas à narrativa. Curiosamente, os flashbacks da infância de Nathan são os momentos mais envolventes da obra. Retratados com mais sensibilidade e contando com atuações infantis surpreendentemente cativantes, essas sequências despertam uma emoção que falta no restante do filme.
A trilha sonora também é um elemento que poderia ter sido melhor aproveitado. Embora cumpra sua função de acompanhar os momentos mais dramáticos, não se destaca ou contribui para elevar o impacto emocional da trama. Em um filme que busca transmitir uma história de superação e redenção, uma trilha sonora mais marcante poderia ter ajudado a preencher algumas das lacunas emocionais deixadas pelo roteiro e pelas atuações inconsistentes.
O desfecho consegue trazer um impacto razoável, mas é insuficiente para resgatar um filme que carece de emoção ao longo do caminho. “Desafie a escuridão” tem uma história poderosa em suas mãos, mas a falta de autenticidade em sua execução impede que se torne uma obra verdadeiramente memorável. A sensação final é de um drama que tenta soar profundo, mas nunca consegue realmente mergulhar na essência de sua história. O filme poderia ter sido uma reflexão poderosa sobre segundas chances e o impacto de um mentor na vida de um jovem, mas acaba sendo apenas mais uma produção que não consegue se destacar no gênero.

Um verdadeiro apaixonado pelo cinema, que encontrou nas palavras a maneira ideal de expressar as emoções e reflexões que cada filme desperta.