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“JURASSIC WORLD: RECOMEÇO” – Novas espécies, mas não novas ideias

Com JURASSIC WORLD: RECOMEÇO, a franquia iniciada com Steven Spielberg em 1993 chega em seu sétimo filme e a promessa de uma terceira trilogia. Como o próprio título indica, trata-se de um reboot que almeja alcançar uma nova geração, mas sem perder os fãs antigos. Da maneira como é desenvolvido, contudo, dificilmente consegue cativar qualquer um desses públicos.

Apesar de dinossauros e seres humanos coabitarem o planeta, os territórios são agora bem divididos, de modo que aqueles vivem na região equatorial e sem a presença destes. Diante da possibilidade de um grande avanço médico usando DNA de três dinossauros enormes, o dono de uma empresa farmacêutica contrata uma mercenária e sua equipe, além de um especialista nas criaturas, para uma expedição destinada a coletar o material genético.

(© Universal Pictures / Divulgação)

Comparando com as demais obras da franquia, a direção de Gareth Edwards está em patamar intermediário. Os dois primeiros, “Jurassic Park: o parque dos dinossauros” (1993) e “O mundo perdido: Jurassic Park” (1997), foram dirigidos por Spielberg, que entrega os melhores filmes entre os sete. Por outro lado, “Jurassic Park III” (2001), de Joe Johnston, é bastante esquecível. Colin Trevorrow dirigiu dois longas da nova trilogia, “Jurassic World: o mundo dos dinossauros” (2015) e “Jurassic World: domínio” (2022), reduzindo ainda mais o nível de qualidade. J. A. Bayona, por sua vez, tem em “Jurassic World: reino ameaçado” (2018) a melhor produção desde a de 1997. Em outras palavras, Edwards fica abaixo de Spielberg e Bayona, mas acima dos outros dois.

Edwards apresenta cenas de ação muito boas, com destaque para as que ocorrem no mar, na primeira parte (de três) da aventura. A rigor, esse momento é tão superior ao que se segue que ele acaba tornando as cenas posteriores decepcionantes. Boa parte disso se deve ao fato de que, nessa parte, os cenários são reais, transmitindo com qualidade a sensação do real que o longa pretende transmitir. Diversamente, as aventuras em terra dependem muito do uso de chroma key, cuja artificialidade é fácil de ser percebida (e o uso de pouca profundidade de campo não ajuda em nada, vide a cena da escalada). O CGI dos dinossauros é competente, sendo possível perceber a textura dos seres criados por computador, mas o mesmo esmero não se verifica nos cenários, o que prejudica a experiência quando se presta atenção no conjunto (leia-se, não apenas nos animais e/ou nos humanos).

Considerando a intimidade de David Koepp com a franquia, dado que roteirizou os longas de 1993 e 1997 (e até mesmo duas versões de videogame da saga), sua escolha parece natural. Entretanto, o script entregue é extremamente preguiçoso e atribui ao elenco a tarefa de enriquecer as personagens. Koepp faz uma reciclagem dos filmes precedentes de maneira desavergonhada, o que vai das personagens – divididas por três motivações iniciais (mera sobrevivência, ganância e encanto intelectual) e em quatro categorias (pessoas comuns, soldados, especialistas em dinossauros e pessoas com interesses egoístas) – à narrativa em si, cuja estrutura é óbvia (as personagens descartáveis são as primeiras a morrer, sendo possível prever até mesmo a ordem das mortes) e que depende de cenas já muito bem conhecidas (a tentativa de se ocultar em um local fechado e escuro, o uso de sinalizador para desviar a atenção do dinossauro etc.). A rigor, a direção também não se preocupa em inovar nesse tipo de cena, o que a torna decepcionante. O texto tenta apresentar profundidade ao mencionar aspectos éticos da empreitada, mas a maneira maniqueísta como eles são apresentados tornam a tentativa vã. Da mesma forma, o backstory das personagens é minimalista em demasia.

Nesse sentido, o que compensa algumas dessas falhas é o qualificado elenco. No grupo das pessoas comuns está a família de Reuben (Manuel Garcia-Rulfo), núcleo que se revela o mais interessante porque mantém o senso de realidade naquele fantástico universo. Suas duas filhas não têm grande importância, mas o genro, Xavier (David Iacono) serve como alívio cômico (o que Iacono faz impecavelmente) sem deixar de lado a humanidade da personagem, que tem um lado irresponsável, mas que também é capaz de demonstrar bravura. Os soldados são os mercenários capitaneados por Zora e Duncan, cujo carisma de seus intérpretes (Scarlett Johansson e Mahershala Ali) alivia sua história pregressa presumida. Jonathan Bailey interpreta o dr. Loomis como um pesquisador fascinado pelas criaturas, o que é um clichê do universo cinematográfico jurássico, mas não permite que, a despeito das falas da personagem, esta se torne uma bússola moral entediante. No último grupo, em virtude do roteiro, Rupert Friend não tem espaço para evitar que Krebs seja a encarnação do mal. Em síntese, a dupla principal (Johansson e Bailey) é bem melhor que a anterior (Chris Pratt e Bryce Dallas Howard).

É falado no filme que as pessoas estariam cansadas dos mesmos dinossauros (que até não muito tempo podiam ser visitados em parques), o que teria justificado a engenharia genética criadora de novas espécies, objeto de críticas no discurso intradiegético. Ironicamente, o que o filme faz é exatamente isso: diante de um possível cansaço do público com os mesmos dinossauros, apresenta novos exemplares. O que tornaria o filme bom, porém, não são novas espécies, mas novas ideias, o que claramente falta na produção.