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“JURASSIC WORLD: REINO AMEAÇADO” – Voltando às origens… mais ou menos

Repetir “Jurassic World – o mundo dos dinossauros” não parecia uma boa ideia, já que o longa usou muito mais a nostalgia em seu favor do que suas escassas virtudes cinematográficas. JURASSIC WORLD: REINO AMEAÇADO é uma continuação do filme de 2015, porém suas escolhas foram certeiras para representar um progresso na franquia.

Fallen kingdom” se passa três anos após o encerramento das atividades na Ilha Nublar. Desde então, os dinossauros passaram a habitar livremente no local, sem a interferência humana. Porém, um vulcão prestes a entrar em erupção coloca a vida deles em risco, dividindo a sociedade entre os que defendem a intervenção para impedir uma nova extinção e os que consideram que é melhor deixar a natureza agir sozinha. O governo decide se abster, quando então Claire é recrutada por um milionário para ajudar a resgatar os dinossauros e levá-los para uma de suas ilhas particulares. Ela não apenas aceita como pede a ajuda de Owen.

Considerando o arco dramático vivido por Claire no filme anterior, é crível que ela tenha passado a participar de um grupo de proteção aos dinossauros. Dessa vez, Bryce Dallas Howard está bem mais confortável no papel, que já não tem o exagero estético no penteado e no figurino incompatíveis com o trabalho e com as cenas (por exemplo, ela aprendeu que salto alto, corrida e grama não combinam). Chris Pratt também retorna à franquia, não demonstrando mudança alguma em relação ao primeiro longa. No que se refere à atuação, o desempenho corporal do ator em uma cena específica chama a atenção. Outros dois nomes são repetidos, sendo que um deles é fan service praticamente sem função narrativa.

Dos novos, Toby Jones é um desperdício lamentável, enquanto Isabella Sermon demonstrou bastante potencial como a tenaz Maisie (a cena em que ela chora escondida é verdadeiramente tocante). O analista de sistemas Franklin permite ao seu intérprete Justice Smith roubar a cena como alívio cômico. O visual do ator – jovem e franzino – combina bastante com a personagem frágil e deslocada do contexto de salvamento dos dinossauros. Seus gritos histéricos são bem engraçados e ele é bem eficiente no diminuto lado humorístico da película. Em contraposição a ele, Daniella Pineda interpreta Zia, uma repetição de Sarah, personagem vivida por Julianne Moore no segundo longa da franquia (o de 1997): audaciosa, independente, imprudente e altruísta. Outra repetição é o Ken Wheatley de Ted Levine, o “grande caçador branco”, nas palavras de Owen. É uma versão um pouco mais destacada do Roland de Pete Postlethwaite, também do segundo filme: ambos são papéis estereotipados e previsíveis, a diferença é que Wheatley protagoniza o primeiro ponto de virada do roteiro.

E não é difícil perceber que o roteiro de “Reino ameaçado” é o seu ponto fraco. O texto é recheado de coincidências e conveniências, e conta com deus ex machina, com um vilão unidimensional e propostas cientificamente questionáveis – uma delas é a transfusão de sangue, a outra é um fala desnecessária e que quase estraga a experiência (só não o conseguindo por constituir uma passagem bastante efêmera). O plot abraça premissas ecocêntricas como “O mundo perdido” (1997), porém com um viés mais sombrio.

O tom do filme, por sinal, é um acerto do diretor Juan Antonio Bayona. Enquanto Colin Trevorrow fez de “O mundo dos dinossauros” (2015) uma aventura leve e descontraída, Bayona traz em 2018 uma versão que se aproxima mais das origens, flertando com o terror através de recursos como a aparição de um T-Rex que somente é visto por flashes, em razão da luz de relâmpagos. A aparição da logomarca do estúdio, com uma música de suspense, é o anúncio do ritmo do prólogo que se segue: uma sequência de exploração submarina bem tensa, com personagens nervosas, ação e apreensão.

A utilização de quase exclusivamente dois cenários – um deles propiciando planos abertos, o outro, fechados – foi a maior dificuldade de Bayona. Na ilha, é mais fácil fazer as cenas de ação e inserir perigos para as personagens – ao menos comparando com os planos fechados do segundo e do terceiro ato, que são melhor utilizados no terror e no drama. O resultado é a escassez de ângulos criativos – a única cena com essa virtude é a que aparece um dinossauro em um local, enquanto a câmera faz um movimento de arco para adentrar no aposento abaixo deste. De todo modo, o cineasta consegue manipular a emoção do espectador em alguns momentos, por exemplo, na claustrofóbica cena da esfera embaixo da água (que consegue transmitir a sensação de aflição, a despeito da transparência do veículo) e na saída da ilha (em que os ruídos de um dinossauro e a música que entoa a cena, bem divididos pela mixagem de som, aliados a um efeito digital de fumaça, evocam tristeza genuína).

A produção representa o ápice dos efeitos visuais, como no CGI do corpo de um braquiossauro, magnífico ao representar sua movimentação corporal e convincente para simular seu peso. Há inclusive preocupação com a pele dos dinossauros, o que antes era palpável apenas pelos animatronics – que não foram completamente descartados. Ou seja, é mais um progresso em relação ao primeiro “Jurassic World”. Até mesmo Michael Giacchino, que já tinha sido compositor no filme de 2015, foi mais exitoso dessa vez, inovando bem e reaproveitando melhor ainda o legado de John Williams. Na fotografia também há melhora: Oscar Faura supera John Schwartzman ao dar um tom mais sombrio que combina com a trama.

Parece que “Jurassic World: reino ameaçado” quer voltar às origens, com uma direção que se norteia pelo que Spielberg fez em 1993 e um roteiro que se apropria de elementos do longa de 1997. O desfecho, entretanto, vai em direção diversa, abrindo um leque gigantesco de possibilidades para um possível terceiro filme. Entretanto, é difícil ser otimista em relação à perspectiva apresentada para a continuação.

Obs.: o filme tem uma cena pós-créditos.