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“ALGUÉM COMO EU” – Precisa melhorar

É difícil pescar algo positivo no filme ALGUÉM COMO EU. Talvez o fato de não ser ofensivo para o espectador – mas isso seria uma inverdade, pois é ofensivo à sua inteligência. Essa  falta de qualidade, porém, não decorre de má-fé, e sim de execução ruim de uma ideia ruim.

A protagonista Helena é uma mulher insatisfeita com o namoro, que gostaria que seu parceiro Alex fosse como ela. Ela pede e seu desejo é atendido: Alex se transforma em uma mulher, assim como ela. Por trás de um roteiro estúpido existe… apenas a estupidez de um filme que não devia ter sido produzido.

Talvez fosse o caso de mencionar que o diretor Leonel Vieira aproveitou bem os lindos cenários em que o longa foi gravado, exibindo estonteantes paisagens portuguesas e cariocas já no establishing shot do plano inaugural. Ou a  encantadora trilha sonora luso-brasileira, que transita do fado à bossa nova, gêneros musicais específicos, respectivamente, das duas nações. Nesse sentido, a arrebatadora canção de Mariza eleva a melancolia da protagonista Helena, contudo essa melancolia é resultado do conteúdo do texto e (principalmente) da música, não de um trabalho narrativo bem desenvolvido (porque isso inexiste).

Excetuando os cenários e a trilha sonora, o longa “Alguém como eu” é um desgosto sem igual. Como poderia a protagonista, uma mulher insegura e inconstante, viver sem um amigo gay estereotipado que levantasse a sua moral? Por que o limitado ator Ricardo Pereira pode mostrar seu corpo desnudo, enquanto a não muito melhor atriz Paolla Oliveira não pode aparecer beijando outra mulher? É verdade que, nos créditos, aparece um beijo entre dois homens, mas é muito menos subversivo que um beijo entre duas mulheres dentro do contexto narrativo, ainda mais considerando que uma delas não é lésbica. Ainda: por que Alex muda de forma constantemente? Para a última pergunta, a resposta talvez seja: porque Ricardo Pereira precisa justificar o cachê.

Não bastando um argumento ruim e erros pontuais (que, somados, resultam no desastre que é a película), “Alguém como eu” faz questão de incrementar as próprias falhas. O roteiro é feito com uma problemática narração voice over de Helena que, na imensa maior parte das vezes, em nada contribui para a narrativa. O recurso não é tão deplorável nos últimos minutos, quando o longa parece pegar o espectador pela mão para explicar o que quer dizer.

A construção das personagens – seria melhor dizer “da personagem”, pois apenas Helena quase tem aprofundamento, de modo que os demais giram em torno dela, sem relevância (menos ainda camadas) – é risível: Helena é uma mulher imatura para relacionamentos, insatisfeita com tudo e com todos e que só sabe reclamar (sim, uma chata); Alex é um homem comum que, por alguma razão obscura, desagrada a protagonista (e a obscuridade reside no fato de que o filme adota a perspectiva dela, não se podendo saber se corresponde à realidade).

Diálogos sofríveis, coadjuvantes inúteis, desfecho clichê: “Alguém como eu” adota a fórmula perfeita para tudo ser ruim. Se ao menos adotasse um viés cômico, poderia arrancar duas ou três risadas; ao preferir a seriedade, perde a oportunidade de ser menos ruim. Verdade seja dita: a mensagem que o filme quer passar é excelente. O problema é que é muito mal transmitida, precisando melhorar imensamente para ser apenas fraco.