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“AS RAINHAS DA TORCIDA” – Senescência com dignidade

Bem-intencionado: AS RAINHAS DA TORCIDA não passa muito disso. Partindo da premissa segundo a qual nunca é tarde para realizar um sonho, a comédia não é das mais engraçadas (na verdade, é pouquíssimo engraçada), mas também não é uma perda de tempo. É um feel good movie dispensável, mas não desagradável.

O longa é protagonizado por Martha, uma mulher solitária diagnosticada com câncer que se livra de seus pertences e se muda para um lar de idosos, em um planejado aguardo pela morte que considera iminente. Chegando lá, conhece Sheryl, sua nova vizinha, que, ao contrário dela, esbanja energia e animação. Juntas, elas decidem iniciar um grupo de animadoras de torcida da melhor idade.

Cartaz de “As rainhas da torcida

Em tese, trata-se de uma obra sobre empoderamento feminino após o sessenta anos. Exemplo dessa ideia é Alice (Rhea Perlman, convincente), que, mesmo sem um arco dramático propriamente dito, aprende a viver quando conhece Martha e Sheryl, tornando-se livre para falar e fazer o que quiser (o que antes não se permitia). Contudo, o roteiro de Shane Atkinson e Zara Hayes é deficitário nessa questão, pois não se debruça verticalmente sobre o assunto, limitando-se a exemplificar. Mencionar que existem idosos cujas liberdades são tolhidas pelos filhos é insuficiente para incitar alguma reflexão.

Na prática, o filme é deveras superficial e sem grandes emoções, salvo pelas atuações, que são bem esforçadas diante de um texto raso (salvo no caso da Vicki de Celia Weston, vilã pouco efetiva na trama). Como grande destaque estão Diane Keaton como Martha e, principalmente, Jacki Weaver como Sheryl – não que a primeira vá mal, mas a empolgação e a autoconfiança da segunda são contagiantes. A amizade entre as duas surge justamente porque seus perfis são antagônicos: Martha é melancólica e finge para si mesma que está enfrentando corajosamente a morte pela qual aguarda de maneira passiva; Sheryl se apresenta adequadamente à vizinha quando, na primeira conversa, fala sobre apostas em jogos e ereções. É incômodo, porém, o vazio quanto à vida pregressa de ambas, preenchida por informações vagas e insatisfatórias.

Do ponto de vista estético, Martha tem um visual muito diferente das outras mulheres: enquanto estas usam cores vivas e mostrando um pouco o corpo (camisas levemente abertas, mangas curtas etc.), aquela insiste em se esconder (sua personalidade é também discreta) em cores escuras e foscas, jeans básico e ocultando o corpo ao máximo (camisas fechadas até o pescoço e sempre com mangas longas). Talvez o figurino de Amanda Ford seja o que a película apresenta de melhor – o que é pouco.

Isso porque a narrativa apresenta uma trama (ou melhor, um fiapo de trama) excessivamente veloz e unidimensional. Como consequência, as personagens por vezes incorrem em contradições, como ocorre até mesmo com Martha (e com Sheryl, em sentido oposto), que recebe uma injeção de ânimo da noite para o dia (literalmente) – não que ela não pudesse ficar empolgada por motivo algum, mas, da maneira como transparece, é pouco crível uma mudança tão repentina.

Para sustentar o singelíssimo script, na direção, Zara Hayes infla o longa com sequências elípticas que seriam divertidas se não fosse a sua artificialidade. Tudo ocorre de maneira demasiadamente rápida, esvaziando os potenciais (porém inexistentes) subplots. O arco dramático do jovem que quer aprender a dirigir muda completamente o seu foco graças a um enorme empurrão da protagonista (sem que eles consigam formar um laço afetivo convincente); as narrativas das senhoras que encontram em alguns homens obstáculo para sua felicidade plena recebem soluções simplistas (fazer um sinal obsceno não resolve nada).

Apesar dos mencionados defeitos, “As rainhas da torcida” tem o mérito de tratar a melhor idade de forma digna. Não romantiza a senescência, mas sugere que ela não deve ser demonizada e, principalmente, afirma que ela não impede uma pessoa de buscar realizar seus sonhos e desejos (no máximo, talvez, limite e dificulte o processo). Mesmo quando há humor (reiterando que a comédia não gera muitas risadas), há nítida preocupação em não ridicularizar as idosas ou formar um retrato caricato a seu respeito. Esse é um esforço que já merece reconhecimento.