Nosso Cinema

A melhor fonte de críticas de cinema

“ENCONTRO EXPLOSIVO” – Diversão com moderação

Reúna atores renomados em Hollywood e com carisma junto ao público, um diretor eficiente em diferentes estilos e gêneros e uma proposta de comédia de ação pautada numa diversão descompromissada. Ao menos, essas combinações tornariam possível passar pelas quase duas horas de projeção de ENCONTRO EXPLOSIVO com uma satisfação momentânea ao acompanharmos o encontro inesperado de June Havens (Cameron Diaz) com o agente especial Roy Miller (Tom Cruise) e seu acidental envolvimento numa perseguição feita pelo governo dos EUA e por um traficante de armas a Roy em busca de uma bateria especial de funcionamento ininterrupto. Seria possível (no condicional mesmo) se a diversão inicial não fosse, aos poucos, sendo desfeita pelo filme.

James Mangold pode não se sobressair na direção das sequências de ação por sua inventividade ou por seus aspectos coreográficos, porém é eficiente em filmar tais momentos de maneira organizada em termos espaciais. Conseguimos compreender facilmente a relação dos personagens entre si, seus movimentos e as consequências de suas ações porque a câmera não abusa de cortes rápidos e de planos muito fechados. O diretor também acerta em utilizar essas sequências de ação como recursos de humor para satirizar os filmes desse gênero e suas convenções, como vemos em perseguições de veículos em que os motoristas estão mais preocupados em atirar em seus inimigos do que propriamente em conduzir o automóvel.

O cineasta mostra um domínio mais inspirado sobre a narrativa quando filma sequências não vinculadas à ação. Destaque especial, nesse sentido, fica por conta das sequências de flashes em que um personagem drogado apenas vê parcialmente o que acontece com ele sem entender muito bem as várias mudanças de cenários por onde passa. Mais à frente quando esse recurso retorna com outro personagem, o filme produz um momento de humor que ainda também faz uma rima narrativa com a sequência anterior semelhante. Também é interessante notar como os primeiros contatos entre Roy e June são extremamente calmos e desenvolvidos pacientemente a partir de diálogos sem quaisquer sequências de ação para construir uma boa relação entre eles.

A interação entre os dois é a principal ferramenta de produção do humor. O encontro entre dois mundos absolutamente distintos gera instantes mais engraçados, especialmente quando vemos June tentando adaptar-se ao mundo violento de intrigas e reviravoltas do qual Roy faz parte. O tom leve da narrativa está constantemente presente, apesar das ações violentas de muitos personagens, e ajuda a criar uma atmosfera de sátira irreal e descompromisso que pode não agradar a todos. Esse universo cheio de situações aparentemente descoladas do que seria a realidade exige uma suspensão de descrença capaz de transportar o público para este mundo, em parte divertido se as devidas concessões forem feitas.

Essa atmosfera de diversão é sustentada também pelas atuações complementares de Tom Cruise e Cameron Diaz. Ele já está em terreno seguro quando se trata de filmes de ação e fornece a energia necessária para os mais diferentes momentos perigosos a que se submete; dessa forma, sentimos perfeitamente as habilidades de luta e de auto-proteção adquiridas por seu personagem e os riscos que corre quando enfrenta um personagem com habilidades semelhantes as dele. Já Cameron Diaz é mais eficiente na construção do humor do longa metragem, sabendo como imprimir um espanto exaltado a todos os acontecimentos e ameaças vividos por ela e sua confusão diante dos interesses em jogo pela disputa do controle da fonte de energia inesgotável. Se, por um lado, Tom Cruise até se esforça nas sequências de humor, mas apenas fica estranho com seu sorriso debochado estampado no rosto, Diaz escorrega ocasionalmente por ser praticamente todo o alvo das piadas do roteiro.

Se a diversão pretendida por “Encontro explosivo” aparece no início, o que impede o filme de ser positivo em toda sua proposta? O terceiro ato revela-se uma grande bagunça que suga tudo aquilo que era até então divertido. As conveniências e os absurdos da trama multiplicam-se para garantir algumas resoluções do roteiro, os personagens passam por transformações incompreensíveis, sua dinâmica é muito prejudicada e a montagem encadeia sequências apenas através de saltos abruptos entre elas sem maiores refinamentos narrativos. O último ato apresenta um nível tão baixo que parece pertencer a outro filme, bem menos divertido e prazeroso de assistir.

O desfecho de uma obra audiovisual não é o único ponto a ser avaliado, afinal a jornada até ali também precisa ser levada em consideração. Entretanto, quando esse desfecho enfraquece os atos anteriores e retira o espectador da sensação de que penetramos no universo do filme e nem percebemos tratar-se de algo construído por outros, temos um problema que não pode ser ignorado.