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“FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL” [1X03] – Ícones em baixa

O terceiro episódio de FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL tem o objetivo de expandir a história, ainda que o conceito da série seja mais atraente do que a diversão da execução. Ao menos, a trama leva os protagonista para outras direções até então não abordadas e a questão temática central é trabalhada sob uma perspectiva diferente. Dessa vez, novas situações e personagens questionam o valor dos heróis para um universo absolutamente mudado.

(© Disney+ / Divulgação)

Nesse sentido, as mudanças são sintetizadas já na abertura por um comercial sobre o Conselho de Repatriação Global. Trata-se de uma iniciativa governamental para a reinserção das pessoas que retornaram após o blip, que se relaciona de certa forma com os Apátridas. Existem mais algumas cenas sobre o grupo nesse capítulo, capazes de consolidar Karli Morgenthau como a líder e a antagonista da produção, além de mostrar que seus propósitos buscam auxiliar indivíduos marginalizados socialmente. No entanto, o impacto pretendido pelos realizadores ao humanizar os vilões ainda é pouco significativo, pois as cenas estão lá sem a construção e o tempo necessários para ressaltar a complexidade dos personagens.

Ainda assim, algumas mudanças nos rumos da narrativa triunfam, principalmente a volta do Barão Zemo ao MCU (vilão de “Capitão América: Guerra Civil“). Sam e Bucky precisam retirá-lo da prisão e recorrer à sua ajuda por ser o mais indicado a levá-los pelo underground para descobrir quem está usando novamente o soro de Super Soldado. Zemo tanto conduz por lugares e perigos dos quais os protagonistas não podem controlar quanto simboliza uma postura de rejeição aos super-heróis: por causa dele, a ação se desloca para Madripoor, onde não conseguem se sentir seguros; e uma visão contrária aos ícones ocupe a tela em razão das tragédias pessoais vividas por ele.

Se a adição de Zemo traz uma ambiguidade interessante à obra, a dinâmica entre Sam e Bucky não funciona nem isolada nem conjuntamente. Desde o primeiro episódio, os arcos narrativos de ambos passa por poucas transformações ou nuances que façam as jornadas de Sam para aceitar o manto de Capitão América e de Bucky para superar definitivamente os traumas serem menos previsíveis e mais expressivos. Além disso, as interações entre eles no formato buddy cop não convencem e as piadas surgem forçadas como uma obrigação a ser cumprida (por exemplo, em uma brusca tentativa de fazer humor citando filmes de ação). Algo mais próximo da comédia somente funciona quando Zemo e o ator Daniel Brühl ironiza a vilania do personagem.

Enquanto os Apátridas desviam a atenção para pessoas comuns e Zemo rejeita o heroísmo, outra figura aparece na série e se posiciona em relação à questão. Sharon Carter está refugiada em Madripoor desde que seu nome ficou injustamente sujo devido aos acontecimentos dos filmes dos Vingadores, por isso desenvolveu uma postura cética a respeito dos heróis por considerá-los uma hipocrisia. A aparição da mulher ocorre no contexto da investigação de Sam e Bucky, simbolizando então a expansão do universo em direção aos desdobramentos das ações passadas da Hidra. Nessa escalada de fatos, a direção busca uma decupagem diferente para as sequências de confronto físico em um hangar através de longos planos sem cortes, mas o resultado é morno e pouco impactante assim como nas demais cenas de ação.

Por mais que “Mercador do poder” se esforce para dar novas possibilidades à narrativa, os efeitos estéticos e dramáticos continuam medianos. Os sentimentos contraditórios de descrença e desejo de encontrar figuras com as quais seja possível se inspirar movem a produção; o desconforto de Bucky de reviver o Soldado Invernal e o altruísmo em desenvolvimento de Sam ao se sentir contrariado com ações antiéticas recobrem as trajetórias dos protagonistas. Por outro lado, tais discussões não atingem as emoções dos espectadores nem oferecem experiências realmente intensas. Parece cada vez mais que a obra se satisfaz com o mesmo tom monótono e estímulos fugazes oriundos de easter eggs ou referências ao MCU, como fica evidente no surgimento de uma personagem ligada a Wakanda.