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“FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL” [1X06] – Uma conclusão digna de toda a série

Chegado o episódio “Um mundo, um povo“, FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL atinge o que já se poderia imaginar para o season finale: uma grande sequência de ação e a conclusão dos arcos dramáticos dos personagens principais. Dentro desses dois aspectos, a série não extrapola o que já acontecia nos demais episódios, tanto em termos positivos quanto negativos. Ao longo das últimas sextas-feiras, a obra alcança efeitos medianos em seus melhores momentos por depender de pílulas ocasionais de inspiração.

(© Disney+ / Divulgação)

O último capítulo é principalmente uma sequência de ação extensa e suas interferências nas jornadas dos personagens. Como grupos de cenas de confronto corporal e perseguição, não há grandes diferenças em relação ao que já havia sido feito com alguns momentos eficientes e isolados somados a um conjunto que não empolga tanto as emoções do público – o heroísmo de Sam se destaca, como no caso da queda de um veículo, enquanto a separação de núcleos não ressalta a tensão nem alguns desafios individuais, como Bucky facilmente enganado por um telefonema. Além disso, esse encerramento acentua como os Apátridas e sua líder foram negligenciados por um desenvolvimento incapaz de evitar vilanizações e maniqueísmos paupérrimos – faltou abordar concretamente as origens do movimento como produto dos conflitos sociais, os métodos contraditórios e algum eventual impacto dessa causa na sociedade.

Basicamente, Karli e seus seguidores queriam impedir a votação do Conselho de Repatriação Global para o reassentamento dos “refugiados” pelos eventos desencadeados por Thanos. No plano, as autoridades serão feitas reféns e até mortas se preciso for. O tão familiar recurso de levar um personagem inesperado para ajudar quando a situação se complica é feito aqui com John Walker, apesar de ter caído em descrédito por suas atitudes violentas como Capitão América. Os acontecimentos do episódio fazem Walker precisar se dividir entre a vingança pessoal e o dever de salvar as pessoas, um conflito que seria pertinente se sua resolução não fosse apressada e menos poderoso. O desfecho do militar também incorre no conhecido problema de criar easter eggs para alimentar teorias e mover o interesse do espectador muito mais para o que está por vir e não pelo presente em si,

Em outro arco narrativo, Bucky também tem sua transformação consolidada pela ação final. Cada vez mais, ele se distancia da imagem de Soldado Invernal, primeiramente quando ouve um agradecimento de uma das pessoas que salvou; adiante, quando encontra uma maneira mais efetiva de enfrentar seus traumas internos ao reconhecer a violência do passado para certos indivíduos. Ainda assim, o episódio não confere tanto destaque ao momento transformador de Bucky durante o clímax, desperdiçando a oportunidade de tornar a presença do personagem naquela situação mais expressiva – por sinal, seu valor na série poderia ser representado na mudança de sua referência no título, assim como feito com Sam nos últimos segundos antes dos créditos finais.

No entanto, por mais que a narrativa busque outros personagens, Sam continua o centro dramático da história. Desde o capítulo anterior, ele abraçou a ideia de assumir o manto de Capitão América e agora atua publicamente como o herói, o que acontece como o ápice do desenvolvimento do outrora Falcão: a concepção estética do protagonista integra aspectos dos dois super-heróis em um traje que mantém as asas eletrônicas, as listras do uniforme estadunidense e o escudo de Capitão América; e todas as suas atitudes no clímax da ação evocam o altruísmo de alguém que defende soluções pacíficas e negociadas, mesmo no confronto com uma Karli inflexível para o diálogo. A transformação de Sam ocorre de forma orgânica até o fim da ação, quando seu discurso político para as autoridades parece deslocado porque a influência dos Apátridas sobre sua forma de ver o mundo jamais foi significativa e essa postura socialmente engajada surge somente nos minutos finais.

Se o discurso poderia ter um impacto maior caso fosse preparado há mais tempo explorando esse lado, os vínculos sociais de Sam com sua raízes são os momentos mais inspirados para o personagem. Concluída a ação, ele demonstra de forma simples, mas nem por isso menos poderosa, como o novo Capitão América exala a luta do povo negro pelo bem da sociedade sem esquecer seus antepassados, descendentes e sua história – isso fica exemplificado com grande força pelo gesto de Sam para Isaiah, reconhecendo a importância histórica do outro homem. Dentro desse cenário, faz muito sentido que a trajetória de Sam culmine novamente na comunidade onde vive com seus familiares e amigos, desfrutando de uma vida simples e do carinho de estar entre pessoas comuns.

Após os seis episódios, “Falcão e o Soldado Invernal” não avança além do mediano porque os pontos positivos aparecem de modo irregular e são ofuscados por aspectos problemáticos. As possibilidades de a série trabalhar a força de símbolos icônicos para a inspiração dos cidadãos em contextos de crise e as discussões sociais de um herói negro para os EUA não concretizam todo o potencial de tais questões. Isso porque a série prioriza um estilo cômico incompatível para a dinâmica entre Sam e Bucky e ideias nada cativantes para expandir o universo Marvel, resultado em um projeto que começou e terminou sem despertar maiores emoções dos espectadores além da indiferença e a apatia.