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“GREATER THINGS” – Apatia entre quatro linhas

* Filme assistido na plataforma da Supo Mungam Films (clique aqui para acessar a página da Supo Mungam Plus).

Filosoficamente pautado na apatia, GREATER THINGS é um filme um pouco heterodoxo e que dificilmente cativará uma plateia muito extensa. Não que ele não tenha seus valores, mas seu minimalismo é bastante antipático.

Um lutador, um arquiteto e um casal. Em comum, a solidão e a frieza do quarteto no Japão. O lutador saiu da Lituânia e ainda não se sente adaptado ao mundo nipônico em que está inserido. O arquiteto, por sua vez, passeia pelas ruas de Tóquio. O casal assiste a um balé em silêncio na sua casa.

A sinopse é inevitavelmente vaga. Talvez sejam quatro pessoas insatisfeitas com as suas vidas, talvez seja um retrato frio do cotidiano daquelas pessoas. Pode ser que elas se encontrem, pode ser que não saibam da existência umas das outras. A produção escrita e dirigida por Vahid Hakimzadeh não é assertiva em momento algum durante seus pouco mais de sessenta minutos.

(© Supo Mungam Plus / Divulgação)

Seria “Greater things” um filme sobre valorização da vida? O título sugere que existem “coisas maiores” na existência, mas é fácil prever que a película não vai explicitar em que elas poderiam consistir. Não é essa a proposta, pelo contrário, a escassez de diálogos é evidência de que o trabalho de costurar os arcos dramáticos das personagens é mais do espectador do que da própria obra. Não se trata de um filme que diz algo, mas que expõe e sugere.

O que o filme expõe são quatro pessoas completamente apáticas. O arquiteto anda pelas ruas de Tóquio possivelmente procurando inspiração; seu arco narrativo é o mais sintético e desimportante. É o oposto do caso do lutador, cujo nome corresponde ao do ator, Marius Zaromskis (e que também lutava/luta na vida real). Enquanto o arquiteto procura companhia, sendo rejeitado até mesmo pelos gatos, Marius é procurado para se expor. A rotina do lutador é solitária e mecânica, algo com que ele parece estar mais conformado. Quanto ao casal, o homem parece ter um respiro quando vê algo na televisão, ao passo que a sua esposa procura sair da mesmice.

É por querer sair da mesmice que a mulher prefere decorar a casa com uma cor que não seja branca. Ela se interessa por arquitetura, assunto que, em termos gráficos, é forte na obra. A bailarina está na televisão, um retângulo; a casa onde mora o casal, à primeira vista, parece um cubo. A reunião na sala com portas de vidro tem linhas à frente, o vidro também está presente na fachada do prédio (e da residência do casal).

A fotografia diferencia um pouco as narrativas, usando iluminação mais fraca nas cenas do lutador. Quando o quarteto converge, a imagem fica granulada. O hotel de Marius tem um quarto apertado, um paralelepípedo tão desconfortável quanto a vida das personagens. O casal se veste de preto porque suas vidas não são, de maneira alguma, alegres. Nenhuma das quatro personagens sorri no filme, na verdade pessoas ao redor delas parecem ter bons momentos (os que dançam, em duas cenas), mas não é o caso dos quatro (Marius, o arquiteto e a mulher ficam próximos das pessoas que dançam, porém imóveis).

Existe uma preponderância do arco dramático de Marius. A direção dá tons homoeróticos à obra em suas cenas: os atletas aparecem tomando banho no chuveiro da academia ou se exercitando descamisados, há um pedido para tirar a camisa na reportagem. O filme tem claramente um viés voyeurista, exibindo as quatro personagens sem preocupação em fazê-las interagir. O que é relevante não é o que elas falam ou fazem, mas o que deixam de falar ou fazer, sobretudo no que se refere ao casal.Talvez mais do que voyeurista, “Greater things” é um pouco sádico ao mostrar personagens desmotivadas e desanimadas. A experiência que ele promove não tem brilho, não é confortável nem agradável – não que precise, importante ressaltar. A apatia é como uma energia que sai da tela para o público e, quem sabe, para o autor desta crítica ou seu leitor. A falta de força é tamanha que encerrar essa frase se torna