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“INVASÃO ZUMBI 2: PENÍNSULA” – Fantasia, realidade e vírus

Depois do sucesso surpreendente do primeiro, seria razoável esperar de INVASÃO ZUMBI 2: PENÍNSULA um nível igual ou superior. Não é esse o caso. A produção adota clichês hollyoodianos, é preguiçosa em diversos aspectos e tem como principal virtude a sorte de um timing bastante oportuno.

Passados quatro anos, o vírus que transforma pessoas em zumbis se espalhou pela Coreia do Sul. A península ficou isolada e os últimos sul-coreanos viajam de barco para Hong Kong. Sem familiares vivos, Jung Seok aceita retornar ao local para resgatar uma vultosa quantia em dinheiro juntamente com outras quatro pessoas. Os perigos que ele encontra, contudo, não são apenas os zumbis.

(© PARIS FILMES / Divulgação)

Lançar o filme em 2020, primeiro ano da pandemia (enquanto tal) do vírus Sars-CoV-2, é uma coincidência que admite interpretações bem variadas, que vão desde uma piada de mau gosto a um alerta fantasioso. Evidentemente, o vírus da franquia “Train to Busan” nada tem a ver com o coronavírus, mas o roteiro de Sang-ho Yeon (que também dirige a produção) e Ryu Yong-jae pode ser provocativo em alguns aspectos.

O primeiro deles é o paralelo que se pode traçar quanto à discriminação das pessoas potencialmente infectadas. Há uma cena em que o protagonista é expulso de um local público, sob ameaça, pela simples razão de ter vindo do local de onde o vírus foi descoberto (aliada à possibilidade de também estar infectado). Por ignorância, encontra-se um vilão para algo que não admite maniqueísmos. A arte imita a vida: a China é rotulada por alguns, em 2020, como responsável pela covid-19.

O filme aponta por um choque entre gerações que também pode encontrar eco na realidade. Pessoas de mais idade são retratadas como esperançosas em nível que beira o irracional, crianças representam a fraternidade impessoal e indivíduos na faixa intermediária são desanimadas e desesperançosas. Hae-hyo Kwon interpreta um homem experiente que deposita suas esperanças em alguém em quem apenas ele confia; Ye-Won Lee faz de Yu-jin a representante de uma geração disposta a salvar pessoas (em ótica religiosa, entende que os “mais fracos” devem ser ajudados); Re Lee e Jung-hyun Lee interpretam personagens em uma faixa intermediária (a primeira, na passagem da adolescência para a juventude; a segunda, madura) sem esse senso solidário e com olhar bastante pragmático da realidade.

Embolado nessa fotografia de gerações o filme parece adotar uma visão coerente com a faixa intermediária: “Deus nos abandonou”, está escrito na península. Também é o gancho para colocar os vilões, onde há exagero notório – o sargento Hwang de Min-Jae Kim e o capitão Seo de Gyo-hwan Koo são estereótipos cinematográficos de homens maus sem motivações robustas (os clichês mencionados). Este é, igualmente, um problema do herói Jung Seok (Dong-Won Gang): não fica claro por que ele age como ele age. Enquanto os antagonistas conseguem mostrar os instintos mais primitivos e animalescos do ser humano, a barbárie não encontra contraposição, pois Jung Seok parece ter abandonado as rédeas da própria trajetória.

A narrativa de “Invasão zumbi 2” é por vezes preguiçosa, como a explicação sobre o hiato de quatro anos, através de uma entrevista em um programa jornalístico. Há personagens meramente instrumentais e que, na prática, escancaram mais a preguiça do roteiro (é o caso do Comandante) – não à toa, o parceiro de Sang-ho Yeon no primeiro filme é outro (Joo-Suk Park, e não Ryu Yong-jae). O início do texto é enrolado em demasia, com duas introduções (a da família pedindo ajuda e a do navio) que eliminam qualquer fluidez que a narrativa pudesse ter.

Na direção, Sang-ho Yeon é criativo em apenas duas sequências. A primeira é a do carrinho de controle remoto, que visualmente se destaca, ainda que falhe em causar suspense. A segunda, provavelmente a melhor do filme, é resultado de um plano longo, com falsos cortes (no estilo hitchcockiano) em uma cena de ação muito boa. Entretanto, a estética não é das melhores, sobretudo nas cenas envolvendo carros, em que os efeitos visuais aproximam “Península” de Need for Speed. O som também deixa muito a desejar, em geral por ter músicas genéricas – salvo em uma cena, na qual o ritmo latino destoa completamente de tudo que há no longa.

Invasão zumbi 2: península” tem ação, horror e drama. A ação, em sua maioria, não é empolgante. O horror é gore na medida adequada, porém os zumbis não aparecem tanto quanto o público pode desejar. O drama é absolutamente vazio. Contudo, o filme tem a sorte, como dito, de estrear em um ano no qual o medo é real – o que pode colocar nele os holofotes. Para o bem de todos, é melhor que as pessoas reais não sejam estúpidas como as personagens do filme.