“JUMANJI: PRÓXIMA FASE” – Sem conteúdo, mas honesto
O que fez de “Jumanji: bem-vindo à selva” um filme capaz de receber sequência foi a fidelidade à sua proposta. A ideia era de uma aventura divertida e engraçada, sem muito conteúdo, mas apta a entreter. O desafio de JUMANJI: PRÓXIMA FASE era manter essa ideia norteadora sem repetir tudo o que ocorre no anterior.
Na trama, Spencer está insatisfeito com o retorno à vida comum, sentindo saudades do corpo de Bravestone. Com isso, ele decide voltar a Jumanji, fazendo com que seus amigos Martha, Fridge e Bethany também joguem para resgatá-lo. Dessa vez, porém, os defeitos do jogo fazem com que os avatares não sejam os mesmos. Além disso, ingressam dois novos jogadores: Eddie, avô de Spencer, e Milo, seu amigo por quem nutre uma mágoa.
O que há de melhor no longa é a troca de avatares, que evita a repetição de piadas como Bethany (Madison Iseman) indignada por estar no corpo de dr. Oberon (Jack Black). Quem incorpora esse avatar agora é Fridge (Ser’Darius Blain), que antes estava no de Finbar (Kevin Hart), o que gera novas piadas. O que chama a atenção é o ótimo desempenho do elenco, que precisa lidar com personalidades distintas habitando o mesmo corpo. Assim, o fato de Finbar ser “incorporado” por Milo, personagem de Danny Glover, exige que Hart imite as características marcantes deste, notadamente o timbre grave, o palavreado polido e o ritmo lento de fala – totalmente diferente do que foi visto no primeiro filme, quando Hart fazia de Finbar o jovem Fridge. O universo é o mesmo, o avatar é o mesmo, mas o desafio dos atores é dividir as personagens em corpos diferentes.
Ainda nesse sentido, destacam-se Dwayne Johnson e Awkwafina. O primeiro ainda é Bravestone, porém quem está no seu corpo é Eddie, papel de Danny DeVito – o que é engraçado por si só, considerando a diferença corporal entre os envolvidos. Com isso, Johnson adota o timbre agudo de DeVito, o que Awkafina – o novo avatar Ming – também precisa fazer posteriormente. Contudo, ela se sai melhor, porque além da voz, a linguagem corporal é muito mais próxima à de um idoso acostumado com dores corporais. Mais precisamente, ela abaixa levemente a cabeça para simular a postura de Eddie, que tem dificuldades de locomoção; ao passo que Johnson faz de Eddie alguém já muito confortável com as potencialidades físicas de Bravestone.
Jake Kasdan (que também dirige a película), Jeff Pinkner e Scott Rosenberg se preocupam bastante, no roteiro, em não se limitar a repetir o anterior. Diversos elementos são retomados, dos hipopótamos às personagens não jogáveis (aliás, a estrutura de um jogo é inegável), porém surgem novos avatares (inclusive com novas habilidades e fraquezas) e – como ocorre em uma nova fase de um game qualquer – um novo objetivo final. Aproveitando-se das novas premissas, o design de produção consegue criar novos cenários, inclusive extremos bem distintos da selva. Os efeitos visuais são de muita qualidade com os animais e com o cenário de gelo, mas deixam a desejar nas dunas.
Spencer (Alex Wolff) ainda é o fio condutor da trama, reiterando o grande pilar temático da obra, consistente na autoconfiança. O texto não gasta muito tempo para mostrar que o garoto está em um momento ruim, todavia há certo exagero, colocando-o como alguém que não consegue atravessar direito uma calçada cheia de pedestres e alguém cujo puxador da mala cai, como se estivesse desanimado e azarado. Associado ao primeiro, surge um segundo pilar temático, muito mais interessante, relativo à senescência. Eddie aparece como um idoso com explícitas limitações físicas, mas que insiste em afirmar que está bem. Paradoxalmente, ele admite que a “velhice é um saco”, fala que é quase o seu mantra.
É óbvio que Spencer e Eddie, neto e avô, aprenderão uma lição valorosa de que é necessário confiar em si mesmo (no caso do primeiro) e que o envelhecimento não é ruim como pode parecer (no caso do segundo). Entretanto, o roteiro é extremamente raso e pouco convincente na matéria, não havendo consistência em relação ao aprendizado. Por outro lado, a proposta do longa é entreter sem muito conteúdo: aproveitando-se de clássicos como “Indiana Jones” (as armadilhas) e “Missão impossível” (a corda para o furto), o foco está na adrenalina (como na sequência dos mandris) e no humor despretensioso (como na sequência com os bugres). É coerente, portanto, o final edulcorado.
Assim, “Jumanji: próxima fase” não consegue ser inesquecível como filme de aventura, mas tem a aptidão de entreter enquanto é assistido. Ainda que não seja denso nos temas que aborda, também não é estúpido como alguns do gênero (tampouco faz o espectador de estúpido). Como o anterior, o filme é honesto por entregar o que promete.
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.