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“MEUS SOGROS TÃO PRO CRIME” – O desgaste da comédia de ação

A comédia de ação é um subgênero do cinema que permanece desde os primórdios da indústria cinematográfica, os filmes mudos, por exemplo, já apresentavam a união do cômico com a ação, afinal, tais gêneros proporcionam estímulos diretos no espectador — como a adrenalina e a risada — sendo, portanto, uma grande fonte de entretenimento ao público. Diante desse período inicial do cinema, esse subgênero trabalhava por meio dos exageros do corpo, como os tombos e cambalhotas. No entanto, foi em meados da década de 20, com Buster Keaton, que a comédia de ação começou a se popularizar. Keaton se destacava por suas habilidades físicas, que geravam/geram gargalhadas no público, e por suas peripécias perigosas que chocavam o espectador. Durante os anos 30 e 40, os Irmãos Marx, com seu humor rápido e diálogos afiados, e os filmes de Laurel e Hardy (O gordo e o magro), conhecidos por suas trapalhadas e situações hilariantes, foram grandes destaques. Mas foi na década de 80 que a comédia de ação alavancou, filmes como “Duro de Matar”, “Beverly Hills Cop” e “Police story” se tornaram grandes sucessos, misturando ação intensa com toques de humor. Entretanto, a comédia de ação, em certa medida, vem sofrendo desgaste ao longo do tempo, a indústria, sobretudo a Netflix, muitas vezes parece estar presa a uma fórmula repetitiva e deteriorada. Embora haja exceções (fora e dentro da Netflix) notáveis, é difícil ignorar a sensação de que muitos filmes nesse subgênero se tornaram constrangedores, repetitivos e excessivamente dependentes de piadas desconexas e péssimas direções de  ação.

Sendo assim, temos MEUS SOGROS TÃO PRO CRIME, que conta a história de Owen (Adam Devine), um jovem gerente do banco que está super empolgado para se casar com o amor de sua vida, Parker (Nina Dobrev). De repente os seus sogros (Pierce Brosnan, Ellen Barkin) misteriosos e descolados chegam à cidade. Horas depois dessa chegada repentina seu banco é roubado pelos notórios Bandidos Fantasmas, e Owen fica com uma terrível suspeita de que seus sogros são os terríveis e famosos bandidos.

(© Netflix / Divulgação)

O filme dirigido por Tyler Spindel tenta criar uma narrativa divertida, seus primeiros minutos empolgam, Adam DeVine tem uma boa presença de tela nessas comédias escrachadas e exageradas. No entanto, no andar da narrativa, Tyler parece perder-se em sua própria direção, a sua decupagem acaba mergulhando na fórmula mencionada. O genérico ganha destaque — dá a sensação que a Netflix lança 30 filmes desse por mês —, não há nada de diferente e tudo em tela parece desconectar o espectador — não culpo se algumas pessoas desistirem de assistir. É comum que tais filmes se deleitem no ridículo, onde na maioria das vezes funciona uma proposta visual caricata bem planejada, como boa parte dos filmes protagonizados por Jackie Chan. Contudo, o ridículo ganha outra conotação nas mãos de Spindel, ou melhor, aufere seu significado original. Embora existam alguns bons momentos, no geral os trocadilhos não se encaixam com a situação proposta pela imagem, as gags visuais e o humor físico que são característica clássicas desse subgênero geram muito mais estranhamento do que gargalhada, fazendo com que o humor tão poderoso de DeVine perca força.

Tyler Spindel acaba negligenciando a construção de uma narrativa coesa em favor de uma sucessão frenética de piadas sem tempo ou sentido. Por mais que pareça proposital (não tenho dúvidas que seja), essa exacerbação desorienta e afasta o espectador de qualquer estímulo visual e sensorial que a comédia de ação venha a gerar. Esse problema estrutural, formal e narrativo não se apresenta apenas na comédia, mas também na ação. Há, portanto, uma falta de equilíbrio entre as cenas de ação e os momentos de comédia.

 A construção de uma boa cena de ação em filmes como este tende a ser um elemento crucial para a concepção da empolgação do público, como comentei anteriormente. No entanto, em alguns casos, essas cenas podem apresentar certos problemas, sobretudo quando o diretor não sabe lidar com elas em tela. Tyler Spindel, infelizmente, torna-se um fortíssimo exemplo, pois a maneira como ele filma e movimenta sua câmera diante da ação é desedificante, apresentando sequências de perseguições de carros e tiroteios sem trazer nada emocionante. Isso pode resultar em uma relação entre tela e espectador sem nenhum tipo de impacto.

No geral, “Meus sogros tão pro crime” segue à risca a genericidade tão comum nos filmes de comédia de ação da Netflix, um subgênero que é tão apreciado pelo público geral desde que o cinema é cinema, mas que está se rafando cada vez mais. Embora haja produções que conseguem trazer frescor ao gênero — como o recente “Esquema de risco: Operação fortune” — muitas vezes nos deparamos com filmes que carecem de criatividade, personagens desenvolvidos e uma abordagem equilibrada entre ação e comédia, tal qual “The Out-laws”.

* Texto escrito por colaboração especial de Caique Henry.