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“MISSÃO: IMPOSSÍVEL – O ACERTO FINAL” – O último antes do próximo

Tudo que ocorreu desde “Missão: impossível” (1996) – incluindo, portanto, “Missão: impossível 2” (2000), “Missão: impossível 3” (2006), “Missão: impossível – protocolo fantasma” (2011), “Missão: impossível – nação secreta” (2015), “Missão: impossível – efeito fallout” (2018) e “Missão: impossível – acerto de contas – parte 1” (2023) – culminou em MISSÃO: IMPOSSÍVEL – O ACERTO FINAL. São sete filmes que levam ao oitavo, um peso que é propositalmente sentido como uma obsessão equivocada para um encerramento.

Depois de enfrentar Gabriel e fugir com a chave em formato de cruz em “Acerto de contas”, a nova missão de Ethan é encontrar o Sevastopol, o submarino que havia afundado no filme anterior e que guarda o meio para derrotar a inteligência artificial conhecida como “A Entidade”. Sofrendo pressão de todos os lados, Ethan se depara com pessoas e eventos do seu passado mal resolvido.

(© Paramount Pictures / Divulgação)

Como indica o próprio nome, o oitavo filme é pensado para ser o último. Com base nisso, o diretor Christopher McQuarrie (que assumiu a franquia desde o sexto) escreveu um roteiro (junto de Erik Jendresen) megalomaníaco em todos os sentidos, não apenas na ação. O que desconsiderou McQuarrie é que quem assiste aos filmes “MI” não procura uma trama complexa, mas cenas de ação de tirar o fôlego e um enredo minimamente coeso (a despeito da suspensão da descrença). É verdade que MI8 entrega cenas de ação estonteantes, sobretudo a cena do mergulho, metonímia do esforço contínuo do protagonista em dramaticamente se desvencilhar dos obstáculos com que se depara e que se somam às dificuldades que já eram de seu conhecimento. Entretanto, o texto se esforça para ser complexo, o que é absolutamente desnecessário. A franquia MI nunca foi tão pretensiosa.

A sinopse dá a entender que o filme é sobre inteligência artificial, o que faria sentido, até mesmo pela continuidade em relação ao anterior. Sua ideia governante, todavia, é a responsabilidade de Ethan sobre aqueles que o cercam e sobre eventos de proporções globais. É a partir disso que o roteiro costura uma conexão dispensável com o terceiro filme, o que não seria problemático se não fosse uma constante: os sete filmes interferem em demasia no oitavo. Assim, é criada uma relação entre a personagem de Shea Whigham com o passado de Ethan que nada agrega à trama, mas que agrega à tentativa de nostalgia através de flashes das produções pretéritas. A noção de “culminar” é levada a sério demais, com elos que soam como bramidos justificando as missões anteriores. Isso ocorre através de referências variadas: narrativas, como o Macguffin de MI3; dialógicas, como a menção à bomba no Kremlin em MI4; e visuais, como na cena do avião, que, embora impressionante pelo risco assumido por Tom Cruise (como sempre), é praticamente uma repetição de MI6. Aliás, muito em MI8 é reciclado dos outros sete.

A única exceção a esse problema de estabelecer obsessivamente ligações com o passado é a personagem de Rolf Saxon, cuja aparição não é gratuita, mas dotada de significado próprio a partir de sua história pregressa, da relação de seu backstory com o de Ethan e de sua importância na trama. Não é o que ocorre com a imensa maioria dos coadjuvantes: apesar do bom elenco (nomes como Hayley Atwell, Pom Klementieff, Nick Offerman, Hannah Waddingham e Angela Bassett), as personagens secundárias são muito irrelevantes e subdesenvolvidas, inflando uma trama para esticar a duração da obra. Merece ressalva, além dos sidekicks do herói (Ving Rhames e Simon Pegg, que, ainda assim, são pouco desenvolvidos), Tramell Tillman, cuja interação com Cruise é bem divertida. O vilão interpretado por Esai Morales, por outro lado, não poderia ser mais insosso.

Há personagens demais com espaço injustificado, o que expõe a intenção de elastecer um conteúdo menor. Enquanto no sétimo filme pouco acontece, os eventos de relevância são reservados ao oitavo, deixando claro que um só filme foi desmembrado em dois, com o objetivo óbvio de expandir os lucros (e, por razões de marketing, o nome foi alterado, pois explicitar a divisão em duas partes não foi um bom negócio). Com isso, a montagem do prólogo é um caos para recordar o espectador da parte 1. A grosso modo, a primeira hora de “O acerto final” poderia ser retirada do corte final sem maiores prejuízos; o filme parece começar com a cena do mergulho, que é muito boa no aspecto visual e sonoro (provavelmente o melhor momento da trilha). A montagem do prólogo, aliás, é um caos completo para recordar o espectador da parte 1.

Responsabilidade, destino, tecnologia e fim do mundo: tudo entra em uma mixórdia rasa e pouco estimulante. Ao mesmo tempo em que coloca as personagens principais em extremos muito distintos – do gelo de um dos polos a uma floresta africana, com a fotografia fazendo o movimento brusco do azul acinzentado para o verde -, o que graficamente funciona bem, a produção não se propõe a inovar ou trazer uma ideia provocativa (mesmo considerando que sua virtude primordial não seja argumentativa). No quesito ação, “Missão: impossível – o acerto final” não decepciona, mas também não encanta. É um último filme (se é que não haverá outros para o imparável Tom Cruise) pensado para ser um encerramento épico, mas executado como uma luxuosa e confusa reciclagem mais focada no lucro do que no entretenimento.