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“O MANICÔMIO” – Trinta minutos redentores

Com apenas oitenta e nove minutos de duração, O MANICÔMIO tem apenas trinta minutos decentes (talvez menos). Bastante conectado (no sentido mais amplo possível) com a realidade hodierna, o filme faz uma crítica bastante conhecida às webcelebridades. Nada que efetivamente surpreenda ou mereça destaque.

O argumento não é dos piores: no objetivo de aumentar o número de seguidores, um grupo de youtubers aceita o desafio – proposto por eles mesmos – de passar algumas horas em um manicômio abandonado, onde poderiam encontrar atividade sobrenatural. O que encontram, porém, é muito mais perigoso que imaginavam.

Cartaz de “O manicômio

O histórico do local é deveras instigante: o manicômio atendia pacientes na época da Segunda Guerra, fazendo experimentos em pacientes com tuberculose. Há um interessante paralelo com mariposas, o que gera possibilidades imagéticas belas, porém isso não chega a ser aprofundado. O roteiro do estreante cineasta Michael David Pate não é dos mais refinados, possuindo piadas de mal gosto (inclusive com Hitler), referências ultrapassadas (“que os jogos comecem”) e premissas clichês (um espaço amaldiçoado por uma pessoa que sofreu no ambiente em um momento pretérito).

O mote do texto é bastante claro, até em demasia: criticar a ânsia dos youtubers por mais curtidas e mais seguidores. Em uma visão mais ampla, trata-se de uma censura à voracidade – e, por óbvio, à frivolidade – pela qual webcelebridades procuram aumentar a sua fama. Se, no pretérito (e ainda hoje, é claro), havia pessoas que se sujeitavam a qualquer situação para alguns momentos de notoriedade, por exemplo, na televisão, o que atrai a popularidade é a internet. Quando uma personagem diz “meu casaco é novinho e eu já tô ficando imundo, tudo isso pra vocês, galera”, está enfatizando um sacrifício que comete para agradar seus fãs. Para ter mais curtidas, toda conduta se legitima, inclusive a que coloca em risco a própria vida.

O texto é levemente jocoso com a imprudência de uma juventude que se empolga com um risco que subestima, uma geração dependente de celulares (o que também é apontado) cuja futilidade chega a níveis estratosféricos, o que justifica a suspensão da descrença a qual o longa implica. Ao final, o discurso chega em um exagero de didatismo (sem olvidar o exagero da própria história), porém a intenção não é ruim. O que é ruim é a narrativa, que é muito mal desenvolvida e, salvo nos trinta minutos finais, abraça todos os clichês do terror (chegando ao nível patético em que uma personagem admite que está em “um cenário típico de um filme de terror”): por exemplo, o local onde estão se torna labiríntico e as personagens se separam. No caso das mortes, isso não é ruim, já que algumas delas são verdadeiramente irritantes. O subdesenvolvimento de um romance acaba sendo coerente, pois não tem relevância alguma.

Do ponto de vista da direção, porém, o trabalho de Pate é razoável. O formato adotado é coeso não apenas pela linguagem jovem (através de gírias e pedidos de likes), mas a mistura de vlog com found footage é realmente um estilo adequado. A simulação de vlog é útil para mover a narrativa e expor o comportamento obsessivo das personagens em relação às suas atividades, enquanto o found footage, além de bem aceito no gênero, preenche os vazios deixados pelas personagens, que não podem ficar conversando com a câmera o tempo todo (o que justifica também a utilização de câmeras em diversos pontos de vista).

Mesmo considerando que os jump scares sejam pouquíssimo efetivos, algumas aparições rápidas conseguem causar alguma curiosidade e têm fins narrativos, notadamente na cena do espírito sangrento na banheira. O uso de lente grande-angular em planos abertos, aliado aos enquadramentos centralizados, geralmente descaracterizaria o found footage, porém aqui se mostra compreensível, pois os youtubers colocaram várias câmeras no manicômio, à espera de flagrar boas cenas.

Os cenários exibidos não são ruins, apenas pobres (ruínas de um hospital abandonado). Talvez seja essa a melhor maneira de descrever “O manicômio”: atrás de um visual singelo e uma narrativa inferior pode haver uma ideia mal lapidada, mas que não é completamente insatisfatória. Ou talvez essa seja uma conclusão muito benevolente extraída dos trinta minutos finais, que almejam a redenção dos outros sessenta e nove sonolentos minutos.