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“RUN” [1X01] – Piloto

* Este texto se refere ao PRIMEIRO EPISÓDIO da PRIMEIRA TEMPORADA da série “Run”.

O primeiro episódio da série original HBO RUN consegue ser, no máximo, morno. É estranho pensar que a premissa da comédia de humor negro é muito boa, além de envolver nomes gabaritados na produção. Nesse caso, o que poderia dar errado?

Tudo começa quando Ruby recebe de Billy, um antigo conhecido, uma mensagem com a palavra “run” (em tradução livre, “corra”). Desnorteada, ela responde com uma mensagem idêntica, avisando o marido – sem explicar o porquê – que não voltará para casa à noite. Em seguida, ela se desloca para um trem, onde finalmente encontra Billy, cumprindo um pacto que fizeram dezessete anos antes de largar tudo e se encontrar.

(© HBO / Divulgação)

A simples ideia de largar tudo simboliza o escapismo, porém não se sustenta, isoladamente, no primeiro episódio, porque quase nada se sabe. A despeito de ser apenas o começo da trama criada por Vicky Jones, não há aprofundamento algum nas personagens. Não se sabe o que Ruby e Billy estão largando, muito menos o motivo. Ao final, ele explica a razão por que a chamou, o que torna o capítulo ainda mais decepcionante.

Sem dúvida, o que há de melhor são as atuações de Domhnall Gleeson e, principalmente, Merritt Wever. Ele faz de Billy um homem desnudado por Ruby; visto como seguro em público, mas que se torna frágil diante daquela mulher. Cabe a ele tomar as primeiras atitudes (inclusive a mensagem inicial), como encostar a mão e demonstrar empolgação com o quarto. Entretanto, ela é muito mais enérgica, de modo que Wever faz de Ruby uma personagem bem mais interessante que o roteiro.

Logo na primeira cena, quando ela faz uma expressão que não condiz com a fala ao celular, a atriz consegue captar a plateia. Esse magnetismo se torna mais pulsante nos minutos seguintes, após a mensagem, que Ruby responde tremendo as mãos e boquiaberta. Talvez tenha sido graças a Wever que o primeiro episódio não seja desastroso: a maneira atabalhoada com que ela faz Ruby agir é de um charme bastante sedutor. O único momento em que Gleeson toma os holofotes é na cena da leitura da mão, que, na verdade, mostra que os dois têm química.

O problema, de um ponto de vista macro, é que tudo é conduzido para soar como um romance insosso, distante da comédia de humor negro proposta. Pode ser precoce concluir dessa forma, mas a narrativa é tão singela que empalidece diante de uma premissa tão boa. A trilha musical, ainda que acompanhe o ritmo da trama, também se torna fosca ao se considerar a ambição preliminar.

Ruby e Billy estão em momentos de vida bem distintos. O próprio vestuário dos dois, inclusive, deixa isso bem claro (ela de camisa social; ele, de moletom). Agora se reencontram e se excitam com esse reencontro. Um episódio de trinta minutos apresentando (única e exclusivamente) isso é deveras frustrante. Trinta minutos de obviedades, um desfecho previsível e um cliffhanger nada funcional. O piloto não é dos mais promissores…