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“STAR WARS: A ASCENSÃO SKYWALKER” – Um desfecho ordinário

Em 2015, começa uma nova trilogia da franquia Star Wars. Comandada por J. J. Abrams, “Star Wars – O despertar da Força” (“episódio VII”) era um recomeço que atualizaria a saga para um novo público. Na prática, foi quase um remake de “Star Wars: Episódio IV – Uma nova esperança”. Em 2017, Rian Johnson rompe com a previsibilidade de seu antecessor e faz de “Star Wars – Os últimos jedi” (“episódio VIII”) uma obra divisiva, desagradando parcela considerável do público. A solução para o “episódio IX”, STAR WARS: A ASCENSÃO SKYWALKER, foi retomar os rumos iniciais.

Na trama, enquanto Rey prossegue em seu treinamento jedi, a Resistência se prepara para enfrentar o Imperador Palpatine, que misteriosamente retorna. Paralelamente a isso, Kylo Ren tenta trazer Rey para seu lado, o que faz com que ambos tenham sentimentos ambíguos na interação com a Força.

(© Disney / Buena Vista – DIVULGAÇÃO)

Nos bastidores, o retorno de J. J. Abrams para a direção simboliza o receio dos produtores (e, em última análise, os estúdios Disney, atuais detentores dos direitos da franquia) em uma reação negativa do público (principalmente, da fanbase). Abrams domina muito melhor que Johnson o ethos de Star Wars, aproximando sua obra dos filmes clássicos, por exemplo ao ressuscitar Palpatine. Evitando spoilers, basta dizer que o roteiro escrito por ele juntamente com Chris Terrio (com a colaboração de Colin Trevorrow e Derek Connolly) é repleto de furos e fanservice sem função narrativa.

A liberdade do roteiro é plena, criando novas premissas e aparentemente consertando os rompimentos do episódio anterior. De uma maneira não muito respeitosa, os rumos com os quais “Os últimos jedi” flertaram são abandonados mediante explicações rasas ou incoerentes. Um pequeno exemplo é a máscara de Kylo Ren, que havia sido abandonada, como símbolo de uma nova personalidade, mas que agora retorna – em claro retrocesso da personagem. Como resultado, a personalidade das personagens se torna volúvel em uma trama inflada em razão da nova rota traçada.

Quem sofre com isso é o elenco, que se contorce para convencer nos papéis inconstantes, principalmente Adam Driver, cuja personagem havia se afastado do perfil frágil e inseguro, e Oscar Isaac, que tinha em Poe alguém que havia aprendido sobre humildade e comando, aprendizado que agora se esvai. O Finn de John Boyega continua sendo coadjuvante de segunda classe, mas agora sem arco dramático próprio. De positivo, o maior espaço para Anthony Daniels, isto é, mais piadas com C-3PO (com algum excesso, mas ainda assim uma justa homenagem) e o aparecimento de Richard E. Grant como um vilão bastante sólido.

No trio heroico principal, Daisy Ridley surpreende no bom trabalho, considerando que Rey parece perdida em um contexto que sempre lhe disse respeito; Carrie Fisher aparece dignamente através de imagens de arquivo; e o Luke de Mark Hamill é completamente diferente da versão trazida no episódio VIII.

Em se tratando de uma continuação de capítulos, a estética visual e sonora é preservada. Afirmar que o design de produção e de som são excelentes seria declarar o óbvio. No primeiro caso, destaca-se o CGI primoroso, com uso intenso da cor azul como símbolo da onipresença de Luke; no segundo, a presença intensa da impecável trilha de John Williams.

O grande defeito do episódio IX não está em aspectos técnicos e nem, a rigor, nos equívocos do roteiro. Há um erro mais grave, no campo da ideação da produção, que fugiu completamente na ousadia, valor artístico sempre elogiável. O projeto foi de caminhar na previsibilidade e na repetição, sem a coragem de quebrar paradigmas. Isso é algo que poucos filmes da franquia fizeram, mas é justamente o que os tornou memoráveis.

O segredo do sucesso não está em recuperar personagens icônicas, mas tornar icônicas as novas personagens. Ainda que haja uma nova roupagem à mesma trama, seria positivo surpreender, inovar ao menos em algum aspecto. As surpresas que existem são ruins, como novas regras para um universo estabelecido (no mesmo nível de Leia inexplicavelmente voando e sobrevivendo no espaço sideral, único erro grave de “Os últimos jedi”).

Isso tudo não significa que “A ascensão Skywalker” seja ruim, longe disso. Para quem é fã, certamente o longa será mais que satisfatório, com grandes chances de superar o antecessor. Em termos cinematográficos, todavia, ele fica dentro de uma censurável zona de conforto e, a bem da verdade, sem atingir o nível estratosférico de um encerramento retumbante. Dos nove filmes, fica na média, ou seja, é cinematograficamente ordinário. Uma franquia tão emblemática merecia um desfecho extraordinário.