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“SUPER MARIO BROS. – O FILME” – Virtudes, mas não de um bom filme

Com um visual vívido e muita ação, SUPER MARIO BROS. – O FILME pretende cativar tanto o público adulto quanto o infantil. Este, em razão da animação de conteúdo infantil; aquele, por pura e simples nostalgia. A produção, porém, não se preocupou em apresentar qualidade em termos narrativos, acreditando que a estética bastaria.

A dupla de irmãos encanadores Mario e Luigi decide resolver um entupimento nas ruas da cidade. Para isso, entram em um labirinto subterrâneo a partir do qual se separam: um vai para o Reino Cogumelo; o outro, para o Reino das Sombras. É o começo de uma aventura na qual, para salvar Luigi, Mario precisará ajudar a Princesa Peach e seus toads contra o terrível vilão Bowser.

(© UNIVERSAL / Divulgação)

Do ponto de vista estético, a direção de Aaron Horvath e Michael Jelenic é primorosa, sobretudo graficamente. O 3D é dispensável, uma vez que faz diferença mesmo apenas em angulações verticais, mas os cenários e texturas são excelentes. Enquanto a maioria das criaturas (inclusive os humanos) têm pele emborrachada, o vilão se destaca com as escamas que o tornam “menos simpático” que as demais figuras (afinal, ele é o vilão). Como no jogo no qual o longa se baseia, os cenários são ricos em perspectiva macro (vão do Reino Cogumelo ao Reino da Selva, da avenida de arco-íris ao fundo do mar) e minimalistas no micro (por exemplo, no Reino das Sombras não há muito mais que uma noite escura, árvores secas, rios de lava e zumbis).

A fidelidade à obra original é tamanha que o avanço narrativo, somado à mudança dos cenários, soa como a ultrapassagem de nível. É o que ocorre, dentre outras cenas, quando a dupla de irmãos corre pela rua para chegar na casa de seus clientes, precisando passar por obstáculos como uma construção (a simulação de travelling eleva ainda mais a sensação de jogabilidade). Os elementos do videogame estão lá tal qual idealizados: elevadores, canos, tijolos flutuantes, pistas de kart, potencializadores em forma de cogumelos etc. Tudo funciona para que a narrativa consiga progredir, o que se torna um problema na medida em que o texto de Matthew Fogel se revela singelíssimo. O twist relativo aos planos do vilão tem a vantagem de torná-lo mais sensível, mas é clichê; o humor é repetitivo (quebra de expectativas, as falas depressivas de Lumalee); o encaixe das personagens não soa natural (qual a razão da lacuna do backstory da Princesa? Qual a necessidade de manter Toad na história?). Se é verdade que as personagens têm características de personalidade, não é menos verdade que elas são unidimensionais: Mario é o sonhador; Luigi, o frágil; Donkey Kong, o exibido; Toad, o aventureiro.

Não é apenas imageticamente que “Super Mario Bros.” chama a atenção. A dublagem brasileira é muito boa (afinal, desta vez foram escolhidos dubladores profissionais ao invés de celebridades quaisquer), com dedicação especial ao sotaque italiano da dupla principal. Para além dos ruídos (ou mesmo músicas) típicos(as) do game, a trilha sonora conta com canções de rock de diferentes estilos capazes de impulsionar consideravelmente as cenas tanto pelo ritmo quanto pelo sentido – é o caso de “Holding out for a hero” (Bonnie Tyler), que toca quando Mario precisa aprender a ser heroico, de “Take on me” (A-ha), cujas ideias de deslocamento e de se arriscar combinam com o “passeio” das personagens, e de “Thunderstruck” (AC/DC), que faz referência a estradas como as que os karts construídos irão enfrentar.

Em razão da separação dos irmãos, sua relação é pouco abordada, ainda que fique claro que Mario é o protetor de Luigi, que o acompanha a despeito do medo. A prioridade do filme está na ação, e realmente há sequências muito boas: a montagem acelerada da sequência elíptica da primeira experiência de Mario com potencializadores; os giros e saltos no kart do gorila de blazer; as reviravoltas da luta do protagonista; as angulações e os cortes variados na corrida da avenida de arco-íris. Entretanto, diante do vazio de conteúdo, a ação incessante se torna cansativa e a obra parece mais longa do que realmente é. Não há simpatia (ou mesmo fofura) de personagens nem estética vibrante o suficiente que consiga sustentar praticamente noventa minutos de um jogo disfarçado em filme e que não é jogado. As crianças vão gostar porque o longa é bem infantil; os adultos vão mergulhar na nostalgia. Isso são virtudes, mas não virtudes que o tornem um bom filme.