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“THE POLITICIAN” [2ª TEMPORADA] – Caricaturas evoluídas

* Clique aqui para conferir a nossa crítica da primeira temporada da série.

A primeira temporada de THE POLITICIAN tateou à procura da dosagem mais efetiva para uma comédia caricatural  sobre eleições para o grêmio estudantil. Já a segunda temporada encontra o tom mais impactante para uma sátira política ao elevar sua trama para a corrida eleitoral para o Senado de Albany em Nova York. Essa nova abordagem, contudo, oscila entre as críticas possíveis aos estereótipos políticos modernos, incompreensão pontual do alvo do humor e contradições no arco do protagonista. Mesmo diante de novas fragilidades, a obra define como divertir o espectador.

(© Netflix / Divulgação)

Esse segundo ano é composto por sete episódios localizados em Albany durante as disputas pela vaga no Senado. De um lado, está a atual e consagrada senadora Dede Standish, apoiada por sua chefe de campanha Hadassah; de outro, o jovem e iniciante Payton Hobart, assessorado pela equipe formada por James, McAfee, Skye, Astrid e a namorada Alice. Apesar de as chapas se colocarem como as mais apropriadas em detrimento da outra, as estratégias de vitória a qualquer custo não parecem ser exclusividade de apenas uma delas.

Tais semelhanças começam pelos temas centrais das duas candidaturas: a mulher utiliza seu triângulo amoroso para conquistar votos do eleitorado feminino acima de quarenta e cinco anos com a retórica de que a sexualidade não tem idade; o homem aproveita questões sobre mudanças climáticas para aumentar sua aprovação entre os mais jovens e convencê-los a votar. Em ambos os casos, não acreditam pessoalmente nas bandeiras que levantam e se apropriam de demandas contemporâneas em busca do fortalecimento de suas imagens. Porém, o que deveria servir para satirizar os personagens e a política, por vezes, é utilizado para ridicularizar causas e posturas relevantes – os exemplos são os episódios sobre apropriação cultural e preservação ambiental, responsáveis por tornar os tópicos simples preocupações absurdas traduzidas pelas ações de Infinity.

Em compensação, o seriado demonstra habilidade em comparar as duas chapas através dos exageros criados por um trabalho midiático espetacularizado. A partir desse viés, podemos entender os trejeitos e expressões caricaturais de algumas atuações, especialmente Judith Light como Dede, Bette Midler como Hadassah (o destaque cômico da produção) e Ben Platt como Payton (cada vez mais à vontade com os excessos do papel sem soar irreal). Da mesma maneira, o showrunner Ryan Murphy e diretores como Gwyneth Horder-Payton e Brad Falchuk criam momentos cômicos e exagerados sob medida graças à mise en scène que valoriza tanto o dinamismo de cortes rápidos quanto o humor gerado por menções ao melodrama. Esses recursos aparecem no núcleo principal quando as duas equipes discutem entre si e quando Dede faz um pronunciamento na TV, assim como no núcleo periférico em que Georgina debate na corrida para o governo da Califórnia, especula de forma incomum como seria seu programa político e encara reviravoltas em seus objetivos ambiciosos.

O efeito surpresa não envolve somente as pretensões políticas da mãe de Payton como os outros conflitos em geral. Nas duas campanhas, existem plot twists contendo segredos, ameaças e planos mirabolantes para fortalecer um candidato e enfraquecer o adversário; bem como desdobramentos imprevisíveis para cada um dos principais elementos dramáticos, principalmente o triângulo amoroso da senadora e o desfecho da eleição – tais reviravoltas ora funcionam como estratégias narrativas para as piadas, ora atuam como componente da críticas a uma “nova política” não tão moderna quanto se apresenta. Entretanto, no terceiro episódio, o impacto das revelações inesperadas se reduz devido aos artifícios que trapaceiam com o público, como a criação de uma surpresa jamais imaginada até serem inseridos novos fatos à trama tardiamente.

Igualmente na decupagem dos episódios, a série define os paralelos entre o que é chamado de “velha política” e o que se proclama como “renovação política”. Isso ocorre principalmente com a montagem paralela, que transita entre os segmentos de Dede e Payton enquanto vivenciam situações semelhantes: a infiltração de espiões na equipe rival, a elaboração de planos para usar os “podres” do concorrente a seu favor e os usos políticos das relações amorosas íntimas. O paralelismo também pode ser visto na alteração do foco narrativo no quinto capítulo, que acompanha o ponto de vista de dois eleitores às vésperas da votação se deparando com embates geracionais e descobrindo (e se frustrando) com o pragmatismo dos candidatos. Com frequência, essas cenas se mantêm com o estilo de humor dinâmico dos cortes ágeis e dos diálogos recitados rapidamente.

De modo predominante, “The Politician” fica refém do seu texto para ressaltar as críticas pretendidas, já que o desenvolvimento dos personagens fica abaixo do tema. Em parte, a conclusão de Dede e Hadassah já era previsível; o desfecho do arco de Astrid e Alice tem muito tempo de tela para tão pouco efeito dramático; e Payton é o claro exemplo contraditório do que a obra pretende e executa: sugere, inicialmente, como o jovem é o arquétipo do político outsider que reproduz os mesmos métodos reprováveis que ataca em seus discursos; mas, em seguida, flerta com a relativização da imagem do protagonista através de momentos emocionantes em que ele insiste que quer ser íntegro até novamente repetir os mesmos erros. Tamanha timidez em reconhecer o descompasso entre a narrativa e o personagem compromete parte dos questionamentos da segunda temporada, ainda que no aspecto sensorial a diversão e o humor tenham evoluído.