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“TOMB RAIDER: A ORIGEM” – Blockbuster razoável

Como adaptação de um jogo para as telonas, TOMB RAIDER – A ORIGEM é muito satisfatório. Entretanto, em termos cinematográficos, é apenas razoável – patamar superior ao comumente atingido por adaptações desse tipo.

No filme, a protagonista Lara Croft é a filha de um rico empresário aventureiro que desapareceu há sete anos. Não aceitando a condição de herdeira, ela inicia uma jornada para localizar seu pai no último destino em que ele foi visto, em uma misteriosa ilha no Japão.

Já bem cotada na indústria (em especial depois do Oscar de melhor atriz coadjuvante por “A Garota Dinamarquesa”), Alicia Vikander é muito convincente no papel de Lara, que, contudo, não exige grandes dotes interpretativos. Algo que merece destaque, em especial comparativamente à duologia protagonizada por Angelina Jolie, a não objetificação da atriz, pois o diretor Roar Uthaug não sensualiza a personagem, no máximo mostrando sua “barriga trincada” nos minutos iniciais.

A direção é uma síntese da obra, logo, de nível meramente razoável. Nas cenas de maior adrenalina, ganham realce as músicas agitadas e uma montagem com muitos cortes. Na luta de boxe, por exemplo, o diretor filma com a câmera na mão, o que, aliada à montagem, afeta a compreensão dos movimentos em si – ou seja, provavelmente é um recurso banal para ocultar uma coreografia ruim. Entretanto, o CGI é bom, ainda que prejudicado nos momentos de escuridão. Isto é, a computação gráfica é bem executada, todavia a falta de iluminação dificulta a visualização dos detalhes (e talvez isso seja proposital), ainda mais em se tratando de um filme em 3D – aliás, é mais um 3D dispensável. Existem na película alguns flashbacks, com filtro de cores frias, o que é aprazível do ponto de vista estético e funcional do ponto de vista narratológico.

É justamente a narrativa do longa que deixa a desejar. Não se trata (apenas) da narração voice over da voz do pai de Lara enquanto ela lê os seus escritos – momentos de pouca utilidade e muita preguiça para explicar de outra forma -, mas diversas inverossimilhanças incômodas. Como uma câmera abandonada há no mínimo sete anos funciona perfeitamente? Ao menos a bateria teria acabado nesse período. Como pode a protagonista encontrar um atalho para pegar um assaltante em um local onde nunca esteve antes? Isso sem contar os blefes narrativos que não convencem ninguém: é óbvio que o vilão não vai atirar na heroína na metade do filme (pois assim seria o encerramento do longa), tanto quanto algo vai impedir que um dos capangas atire nela (e a ausência de munição é uma solução vergonhosamente cômica).

Por outro lado, a construção da mitologia em torno da Rainha Himiko é instigante e cria um enigma cuja solução é muito inteligente – ou seja, é uma surpresa positiva, apesar do desfecho previsível. Salvo pela cena do porteiro, que mostra o tratamento grosseiro que alguns entregadores podem receber, não há muito senso crítico no filme, o que não surpreende em se tratando de uma aventura baseada em jogo. Mesmo quando Lara não aceita a herança de seu pai, essa recusa não corresponde à vontade de adquirir patrimônio por mérito próprio, mas ao inconformismo quanto à possibilidade de o pai ter morrido. O vácuo crítico reverbera também no antagonismo: o vilão é unidimensional, havendo outro antagonista que sequer recebe explicação convincente – provavelmente reservando isso para uma continuação, tornando “Tomb Raider” uma nova franquia cinematográfica.

Entre incontáveis corridas e saltos da protagonista, “Tomb Raider – A Origem” lembra bastante a estrutura de um jogo, com fases a serem completadas para um objetivo final. Sua pobreza narrativa, aliada às correrias incessantes – sem contar o quanto ela sofre, parecendo sempre bem, quase descansada (ela consegue até mesmo escalar um penhasco após retirar um pedaço de metal da sua barriga!) -, dão a entender que o filme é ruim. Não é esse o caso: trata-se de um blockbuster razoável para não ser levado a sério e para ser esquecido no dia seguinte.