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“WANDAVISION” [1×05] – Potencialidades abertas

Após um quarto episódio excessivamente ilustrativo, o quinto capítulo de WANDAVISION reencontra seu rumo graças às potencialidades dramáticas ainda não exploradas. Dessa vez, a narrativa transita entre os núcleos dentro e fora de Westview fazendo o factual da série avançar e também a abordagem estética gerar resultados expressivos. Isso porque a proposta gira em torno dos conflitos impulsionados pelos choques entre esses segmentos.

(© Disney+ / Divulgação)

De um lado, a dinâmica de Wanda e Visão se assume como uma sitcom estadunidense dos anos 1980 com as mesmas características básicas desse tipo de programa (por exemplo, reações de uma plateia e comerciais de produtos); por outro, os agentes da S.W.O.R.D. tentam elaborar uma estratégia para conter os poderes de Wanda e libertar a cidade de seu controle. Desse modo, o primeiro núcleo traz uma trama centrada nos cuidados do casal em relação aos dois filhos (que crescem anormalmente rápido), enquanto o segundo se concentra nos trabalhos da agência sob o ponto de vista de Darcy, Monica Rambeau e Jimmy Woo.

Separadamente, os segmentos podem oscilar entre escolhas estilísticas de impacto e decisões relativamente questionáveis. Quando o episódio se atém às interações dos protagonistas com os filhos, o humor não tem o mesmo efeito dos dois primeiros capítulos (de fato, bem encadeado e com ótimo timing), mas a história sobre as crianças cuidando de seu cão de estimação desperta momentos tocantes (especialmente, por conta da formação do elenco infantil). Já nas passagens fora de Westview, o roteiro soa expositivo durante as cenas em que são feitas revelações sobre Wanda (como nas aparições do diretor Hayward), porém as dinâmicas entre Darcy, Monica e Woo seguem bem-humoradas pelo fato de eles agirem como o espectador agiria.

Entretanto, a narrativa realmente prospera quando um núcleo interfere no outro. A condução da trama se beneficia de todo o momento em que as consequências dos choques entre mundos são escancaradas: Wanda se esforça para proteger o universo que criou de influências externas; os agentes da S.W.O.R.D. se espantam com a magnitude dos poderes da super-heroína em ação; Visão se depara frequentemente com incongruências em sua realidade que o alertam para os males daquela ilusão; e os personagens secundários de Westview reagem de formas distintas à perda de autonomia na cidade (a vizinha do casal aceita ironicamente a situação e o colega de trabalho demonstra angústia por se sentir torturado). Nesses termos, as sequências de confronto entre Wanda e a agência possuem a dose precisa de tensão, como se vê nas sequências em que os agentes tentam se comunicar com a heroína e a mulher responde.

O impacto dessas reviravoltas dramáticas é ampliado pela maneira como o episódio cria visualmente os atritos entre universos. Em cada sequência em que o mundo exterior invade a realidade forjada pela protagonista, a mise-en-scène evoca o desencontro entre o estilo de sitcom e a tensão das histórias de super-heróis – por exemplo, logo depois de um instante apreensivo que coloca em risco os objetivos de Wanda, ela age de modo a restabelecer o “equilíbrio” de sua vida e isso faz ressurgir risadas da plateia. Provavelmente, a sequência que combina a discussão entre Wanda e Visão sobre as ilusões criadas com falsos créditos finais simboliza o conflito de abordagens – em termos de estilo, esse contraponto parece evocar as possibilidades de enredos sobre heróis passearem por diferentes gêneros.

Na verdade, o desenvolvimento do episódio mantém a ideia do choque de contradições até o desfecho. A aparição inesperada de certo personagem na última cena pode despertar reações intensas dos espectadores, principalmente por levantar teorias sobre até que ponto Westview é produto apenas dos poderes de Wanda. No entanto, a conclusão também traz à tona como “WandaVision” pode explorar diferentes versões de uma mesma figura e conectar muitos universos de super-heróis. Tais conexões remetem à mistura de gêneros e ao entrelaçamento de realidades, que vem da criação da ficção de uma série ou de uma cidade inteira.