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“WANDAVISION” [1×08] – Retorno íntimo às origens

À princípio, “Nos capítulos anteriores” não seria um episódio que faz a trama de WANDAVISION avançar. À princípio, a ideia de responder dúvidas a respeito do passado da série poderia repetir a mesma frustração deixada pelo capítulo quatro. Na realidade, esses riscos ficam apenas no campo das teorias e das especulações, já que a narrativa retoma seu background para desenvolver uma trama de origens íntima e compatível com a ideia de inserir diferentes sensações ao projeto.

(© Disney+ / Divulgação)

O primeiro retorno ao passado é feito a partir de um flashback mais comum. O episódio se inicia com uma cartela indicando fatos que ocorreram em Salem no século XVII e mostrando um pouco mais da vida de Agatha Harkness – uma contextualização que referencia o período histórico de caça às bruxas e exibe como a personagem tem poderes grandiosos capazes de despertar o medo e a ira do clã da qual pertencia. Tais sequências se enquadram em um estilo mais tradicional de história de super-heróis, no caso de origem de uma super-vilã, ao trazer muitos efeitos visuais e uma dinâmica de confronto típico do gênero ação.

Com o fim desse segmento inicial, a narrativa recupera os últimos acontecimentos do capítulo anterior, nos quais Wanda se encontrava sob o controle de Agatha e temerosa com o destino dos filhos. A partir desse momento, a vilã deixa de lado as sutilezas de seu plano para entender como Westview passou a ser reescrita e parte para uma estratégia mais incisiva: obriga a protagonista a revisitar passagens anteriores da vida da heroína para descobrir como os poderes foram utilizados para controlar a cidade. Assim, Kathryn Hahn tem ótimas oportunidades para desenvolver Agatha como uma figura que o público adora odiar, tendo um humor bastante particular e sabendo usar seus poderes para ser cada vez mais ameaçadora.

Reencontrar ocasiões marcantes da trajetória de Wanda é o recurso catalisador para a construção formal de uma capítulo consistente. As duas personagens viajam pelo passado, comportando-se como observadoras de cenas já vividas pela heroína – ou, no caso, de Wanda – como alguém que revive certas passagens de sua vida. A execução e o encadeamento dos flashbacks seguem uma lógica coerente e unificada, ao torná-los peças que se encaixam organicamente e transitam de forma espontânea entre si. Consequentemente, o espectador acompanha pela primeira vez eventos que a traumatizaram: a morte dos pais, o luto após a morte do irmão e a relação com Visão frustrada pelo assassinato cometido por Thanos.

Ao encenar tais momentos, a série até pode apresentar acontecimentos que até então não haviam sido vistos no Universo Marvel (como a infância de Wanda em Sokovia e sua paixão por sitcoms estadunidenses). Porém, o que, de fato, se torna mais expressivo é a recontextualização de situações que o público poderia já imaginar saber seus significados, especialmente em relação ao diretor da S.W.O.R.D e a Wanda. O burocrata Tyler Hayward é reformulado a partir de uma nova compreensão de seus interesses em relação a Visão, enquanto Wanda pode ser compreendida de outra maneira (principalmente, ao ressignificar as consequências de sua ida às instalações da S.W.O.R.D em busca do corpo de Visão).

Esse novo destaque conferido a Wanda é certamente o auge do episódio, já que a protagonista não lida com desafios grandiloquentes nem com obstáculos impostos por um inimigo ou por um mundo contrário a ela. Na realidade, os conflitos giram em torno de seus dramas pessoais, dos traumas ocasionados pelas perdas trágicas de figuras queridas e das tentativas de lidar com essas dores. Desse modo, a performance de Elizabeth Olsen ressalta as características dramáticas da personagem através de sequências intimistas e introspectivas em que lida e libera seu sofrimento; simultaneamente, a conclusão do capítulo agrega também uma elemento de descoberta pessoal interessante para sua jornada. Afinal, as últimas frases de Agatha podem evocar uma disputa pela alma de Wanda, algo bastante dramático para um futuro que parece não escapar de suas origens.