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“BIG LITTLE LIES” [2X05] – Narrativa recortada

* Este texto se refere ao QUINTO EPISÓDIO da SEGUNDA TEMPORADA da série. Clique aqui para ler o texto do quarto episódio.

Em BIG LITTLE LIES, as mudanças da segunda temporada ainda não surtiram efeito permanente. Após dois bons primeiros episódios, a série entrou em um marasmo que não é minimizado pelas novidades trazidas pela abordagem direta da diretora Andrea Arnold nem pelo roteiro absolutamente original sem qualquer ligação com material literário prévio. “Kill me” é o episódio mais sonolento e arrastado da produção até agora justamente por não conseguir avançar o desenvolvimento dos personagens.

Cartaz da segunda temporada de “Big little lies”

Não que seja impossível notar os arcos dramáticos dos personagens, mas eles não apresentam evolução ou transformação clara de episódios anteriores a esse. Madeline ainda tenta manter seu casamento, tentando todo tipo de terapia de casal com seu marido apesar da postura ácida e irônica de Ed quanto a uma reconciliação completa; Celeste começa a briga judicial com Mary Louise pela guarda de Max e Josh, revoltada com o comportamento passivo da sua advogada e com as artimanhas da sogra para conquistar a simpatia da juíza; Jane precisa lidar com o fato de que Ziggy (apoiado por Max e Josh) brigou na escola com um garoto que chamou seu pai de estuprador e de que não consegue se relacionar sexualmente com Corey; Bonnie relembra os maus tratos da infância enquanto a mãe está internada no hospital; e Renata continua sofrendo as consequências da falência da família, perdendo a chance de figurar em uma reportagem sobre mulheres com poder e tendo que conter as apreensões da filha.

A falta de desenvolvimento dramático não impede as boas atuações do elenco feminino, tão habituadas estão as atrizes em seus papéis e na realidade de Monterey ou rapidamente envolvida na personagem, como é o caso de Meryl Streep. A veterana, por sinal, continua sendo o destaque entre as performances da série, entregando a dissimulação perfeita nas sequências em que tenta trazer a juíza para seu lado e em que ridiculariza a falência de Renata por conta da perda de móveis na sua casa. A própria Renata é outro exemplo de boa atuação, graças ao timing calculadamente histriônico de Laura Dern quando sabe que não participará da reportagem sobre mulheres influentes e quando perde a paciência com Mary Louise. Desse modo, a estagnação do roteiro volta a ser um problema sério porque restringe outras possibilidades dramáticas para o elenco, que se vê apenas em situações diferentes retratando os mesmos conflitos.

A avaliação de “Kill me” poderia ser melhor se não houvesse uma deficiência ainda mais grave: a combinação falha entre direção e montagem para intercalar as sequências e os núcleos. É possível que a ausência de uma base literária possa comprometer a condução da narrativa, que possui momentos de diálogos muito rápidos e diretos. Assim como é possível que Andrea Arnold e os montadores não consigam dar peso a muitas sequências que parecem jogadas sem propósito dentro da trama. Fortes exemplos da sucessão de cenas apressadamente construídas e encadeadas são os flashbacks da morte de Perry, agora relegados a recordações banais sem presença emocional para os personagens, e a montagem paralela que encerra o episódio, mostrando a alternância de personagens em situações diferentes sem menções do que estão fazendo ou das razões dramáticas para esse recurso – chega a ser anticlimático encerrar o capítulo com imagens aleatórias sem impacto no público.

Big little lies” se aproxima do final da segunda temporada sem alcançar exatamente a força dramática sugerida pelos dois primeiros episódios. Especificamente, o quinto capítulo deixa mais explícitos os problemas narrativos de uma trama que reafirma, a todo momento, as condições emocionais dos personagens sem tantas mudanças. Contrariamente ao que ocorreu na temporada anterior, a rota para a conclusão se desenha com uma temperatura muito morna sem indicar a possibilidade de algo mais contundente acontecer em um futuro próximo.